Cearense é aprovado em Medicina após preparação desde a pandemia: ‘tive que me dedicar à família’
Estudante faz campanha para conseguir arcar com os custos da mudança e enxerga potencial transformador da Educação
A rotina começava cedo: preparar o café, cuidar do irmão, deixar o almoço pronto para a família. Sentar para estudar só às 13h, mas o cearense Wesley Silva, de 23 anos, avançava por “incontáveis horas” numa dedicação autônoma para a aprovação em Medicina, divulgada nesta semana, após 4 anos de preparação em Itapipoca, no Litoral Oeste.
O estudante de escola pública ficou em 1º lugar entre as 3 vagas de bolsas integrais, pelo Programa Universidade para Todos (Prouni), no Instituto de Educação Médica (IdoMed) da Estácio, em Quixadá, no Sertão Central. No momento, a família faz uma campanha para custear a mudança.
A trajetória até a aprovação começou ainda em 2019, quando o jovem desistiu da graduação em Psicologia, em Fortaleza, e voltou para a cidade natal. Naquele momento, ganhou o primeiro incentivo da avó: uma mesinha de madeira com toalha de crochê para estudar.
“Comecei a estudar do zero, sem muito recurso ou apoio financeiro, foi difícil. Fui conhecendo gente pelo Instagram, alguns professores me deram bolsa em cursinhos de redação”, lembra do momento em que não tinha nem computador. Os estudos eram pela tela do celular, papel e caneta.
“Eu estudava até umas 22h, sempre fui muito autodidata, e como não tinha como pagar para ter um cronograma, eu mesmo separava os conteúdos, delimita o que ia fazer de cada disciplina”, detalha sobre a preparação.
As questões de matemática causavam ansiedade, diferente dos temas da biologia, química e da história que são mais fáceis de assimilar para o rapaz. A dinâmica de estudos, contudo, precisou se adaptar às necessidades da família.
Nesse tempo, teve a pandemia, meus avós adoeceram e eu ajudei a cuidar deles. Tive que me dedicar à família e foi um período que eu não conseguia estudar integralmente
WESLEY SILVA
Estudante
Além disso, Wesley assumiu algumas demandas da casa para que a mãe e o padrasto pudessem atuar na feira da cidade, fazer faxinas ou vender roupas. Isso, porém, não foi um peso para o estudante.
“Minha família me ajudou muito por não me obrigar a entrar no mercado de trabalho logo, mesmo a gente precisando, e esse apoio foi muito importante. É um privilégio poder estudar”, reflete.