Botânico defende arborização maior em Natal, que tem 33% do território composto por árvores

Botânico defende arborização maior em Natal, que tem 33% do território composto por árvores

Botânico defende arborização maior em Natal, que tem 33% do território composto por árvoresProfessor da UFRN diz que árvores influenciam em fatores ligados ao dia a dia, como sombreamento, umidade do ar e amenização da temperatura

Ao menos um terço de Natal é de áreas verdes considerando as árvores espalhadas pelas ruas e as Zonas de Proteção Ambiental (ZPA) espalhadas pela capital potiguar, segundo Leonardo Versieux, professor do departamento de Botânica e Zoologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e doutor em botânica. Este é um levantamento que nem as secretarias municipais de Urbanismo (Semurb) e de Serviços Urbanos (Semsur) possuem. No entanto, de acordo com o especialista, algumas regiões da cidade precisam evoluir e o natalense precisa passar a “gostar de árvores” já que elas interferem diretamente na qualidade de vida da população.

Para o professor da UFRN, alguns pontos de Natal mostram diferenças quanto à arborização. “Eu tenho que dizer, primeiro, de qual Natal a gente está falando. Porque se eu pegar a Natal do centro da cidade e dos bairros mais antigos, como Petrópolis, Tirol, Cidade Alta, ela é bem arborizada. Agora, os bairros da Zona Norte e os que são mais recém urbanizados, como Capim Macio, Ponta Negra, a região de Candelária, tudo que vem mais para a região de Parnamirim, é menos arborizado. Isso dá para se ver, inclusive, nas fotos dos satélites”, disse.

Ele também afirma que a questão da arborização está ligada à renda média dos bairros. “Se a gente pegar Pitimbu, não está bem arborizado. Os bairros mais ricos têm mais área verde, tem mais praças, tem mais arborização na calçada”, avaliou. Ele defende a arborização como fatores que influenciam diretamente no bem-estar da população.

“São vários fatores e hoje o que a gente mais sente diretamente é a questão do sombreamento e amenização do calor. Seria um fato fundamental para os dias de hoje, a gente está vivendo aí um calor fora do comum. Então acho que o sombreamento e a amenização da temperatura são os mais importantes, mas tem várias outras sucessões. Por exemplo, redução de ruído, retenção de poeira e aumento da umidade. Inclusive, tem estudos que mostram, tive uma aluna que fez pesquisa, a sensação de bem-estar psíquico”, observou.

Outro ponto que o botânico defende é que cidades arborizadas tendem a ter menores índices de violência. “Existe na literatura, a gente fez esse levantamento também para o Rio Grande do Norte, cidades mais arborizadas tendem a ter menos violência urbana, porque é um ambiente mais agradável, mais pacífico. E o mercado imobiliário da construtora já conhece isso, tanto é que você vai comprar um apartamento numa rua verde, arborizada, ou um prédio que tenha jardins custa mais caro”, explicou.

No entanto, para o botânico, existe uma assimetria na arborização em Natal, principalmente considerando os bairros de menor renda. “Nos bairros mais pobres, as calçadas são mais estreitas. Então acaba que os bairros mais pobres têm menos planta, têm menos área verde, têm menos praças. Natal é uma cidade que tem um potencial enorme porque a gente tem 33% do território municipal dentro de Zonas de Proteção Ambiental. Quando a gente fala de arborização urbana, não necessariamente a gente está falando só daquela árvore que está na frente da casa do cidadão, da calçada”, atestou.

Outro ponto defendido por Versieux, parte dos canteiros centrais, que deveriam colaborar para arborização da cidade, são usados de forma indevida. “Esses canteiros muitas vezes têm a função de estar arborizados, permitir que a chuva infiltre, mas eles são ocupados por construções ilegais, por invasão, por comércios. As pessoas ocuparam, invadem o espaço público de uma infraestrutura verde que poderia ser melhor explorada. É um desafio”, disse.

Para o professor, é necessário ensinar as pessoas a gostarem de árvores. “Muitas vezes a prefeitura faz seu trabalho. Ela vai lá, planta muda, planta árvore na frente de casas, de prédios. E a população se engaja muito pouco em regar e cuidar. Tem muito vandalismo. As pessoas reclamam que a árvore é fonte de ladrão ou que a árvore suja. Então a gente tem que trabalhar esse aspecto afetivo, de gostar das plantas”, defende.

Outra questão crucial, segundo Leonardo, é transformar as ZPAs em espaços que a população possa desfrutar. “Dar a efetiva preservação e até mesmo o acesso da população, transformar o espaço, transformar em área que a população possa desfrutar, Tem que haver uma política que ataque essas frentes todas. Tomar conta dos espaços públicos verdes, incluindo as ZPAs, os canteiros centrais, por exemplo. Tem Parque das Dunas, tem Parque da Cidade, e a gente tem todas essas ZPAs espalhadas, então é um privilégio que Natal tem”, diz.

Ele também elogiou a atuação da Prefeitura de Natal com programas como o Planta Natal e a atuação do vereador Robério Paulino (Psol). “A prefeitura tem feito um belo trabalho recentemente. Essa administração a gente tem que reconhecer, eles têm projetos como o Planta Natal, também tem o vereador Robério, que tem um projeto na iniciativa dele de plantar 50 mil mudas de árvores em Natal. As pessoas estão vendo que a gente está para trás em relação às capitais vizinhas, especialmente João Pessoa e Fortaleza, que sempre estão à frente em rankings de cidade mais arborizada, como cidade que tem mais árvores por habitante ou mais metros quadrados de área verde por habitante”, salientou.

Prefeitura não tem estimativa da quantidade de árvores em Natal

Questionada pela reportagem, a Semurb afirmou que não existe um levantamento a respeito da quantidade de árvores na capital potiguar e que existe um processo de licitação em andamento para a contratação de uma empresa para fazer o levantamento arbóreo da cidade. Em relação ao programa Planta Natal, o Executivo informa que foram plantadas 17.511 mudas até o fechamento desta reportagem, na tarde desta terça-feira, 2.

A Semsur informou que o plantio de árvores na capital prioriza as espécies nativas, como a oiti e a craibeira, para manter a vegetação típica e não afetar as árvores existentes. Quanto a manutenção e poda, a Semurb afirmou que realiza os serviços de forma periódica e reaproveita o material para compostagem. São alvo destes serviços as árvores que estejam em áreas públicas. Os serviços podem ser solicitados pelo aplicativo Natal Digital ou pelo telefone 3232-9845.

Outro programa para colaborar com o equilíbrio entre as áreas verdes e o desenvolvimento da cidade é o Natal Mais Verde, que segundo a prefeitura compartilha com a população “a responsabilidade de conservar, manter praças, canteiros, jardins, parques e logradouros públicos para uso adequado pela comunidade”. Em troca do incentivo da publicidade, o adotante pode recuperar, manter e preservar as áreas públicas, prezando pela limpeza e a conservação do local. Assim, em parceria com a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos, o adotante poderá ofertar à população espaços esteticamente agradáveis.NOTÍCIAS RELACIONADAS

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Redação

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