25ª Fenearte: veja o que você pode encontrar na maior feira de artesanato da América Latina

25ª Fenearte: veja o que você pode encontrar na maior feira de artesanato da América Latina

A reportagem da Folha de Pernambuco visitou a feira e preparou uma pequena amostragem da variedade de itens que é possível encontrar na edição deste ano

A 25ª edição da Fenearte — Feira Nacional de Negócios do Artesanato, a maior feira de artesanato da América Latina, já começou e, como é tradição, traz uma pluralidade de itens, entre arte, artesanato, moda e gastronomia, em uma abundância de matérias-primas, técnicas e diversidade de territórios.

Por isso, a reportagem da Folha de Pernambuco visitou a feira e preparou um pequeno resumo da variedade de itens que é possível encontrar na edição deste ano.

Arte com expressão
Logo na entrada do evento, na Alameda dos Mestres, é possível se deparar com diversas obras de arte que carregam a assinatura de seus criadores em cada traço e expressão. De Garanhuns, no Agreste de Pernambuco, Valfrido de Oliveira Cézar, de 68 anos, mais conhecido como Mestre Frida, impressiona com os Guerreiros/Operários entalhados na madeira.

Peças que, apesar de não possuírem os detalhes dos olhos e boca, encantam por carregarem uma expressão única e forte, que se tornou uma característica do trabalho do mestre. Os valores das peças variam entre R$ 25 e R$ 2.000, com a opção de chaveiros, o objetivo é dar a oportunidade a diversas pessoas de conhecerem a sua obra.

“Desde que comecei, faço nesse mesmo estilo. Sem olhos, sem boca, não sei exatamente de onde veio a inspiração, mas é uma terapia para mim. Sempre foi uma peça considerada diferente, e tornou-se um trabalho diferente. Hoje, é bem aceito por todo mundo, exatamente porque é diferente”, contou o mestre.

Valfrido de Oliveira Cézar, de 68 anos, mais conhecido como Mestre Frida

Já na área ampla dos estantes, Emerson Silva, de Petrolina, Sertão Pernambucano, retrata caprinos e ovinos do Vale do São Francisco, raças criadas no semiárido nordestino. Ele utiliza cerâmica, arame e madeira na criação de suas peças, buscando aplicar características da criação na sua arte.

Os materiais são coletados por ele na Caatinga da própria região. “Eu procuro aplicar características da criação no meu trabalho. Tudo, desde o barro até a parte de paisagismo como as arvorezinhas, é toda retirada da Caatinga”, explicou o artesão.

Assim como o Mestre Frida, Emerson busca aplicar preços acessíveis em suas peças, com o objetivo de que sejam acessíveis a todos e tragam conforto aos lares de quem adquiri-las. Por isso, suas esculturas custam entre R$ 65 e R$ 1.000.

“Eu quero que todas as pessoas recebam as minhas peças em casa, para que isso traga um conforto para elas. E, por isso, preciso que sejam bem acessíveis, em questão de valores”, disse.

Identidade
Também pensando em trazer conforto e personalidade aos lares, nasceu a Grão de Argila, das irmãs Neire Almeida, de 62, e Mery Silva, de 68. Com ateliê de Olinda, as irmãs se inspiraram na cidade maravilhosa para criar louças com identidade e características únicas, como aparelhos de jantar com a reprodução da vista do sítio histórico, e o carro chefe da casa, uma xícara que tem o formato do casarão de Olinda. Os itens partem de R$ 35 e podem ultrapassar o valor de R$ 1.000, dependendo da encomenda.

“Nós temos essa regionalidade muito forte, sabe? E o público aceita demais isso e pede até para a gente fazer suas próprias casas. Por exemplo, “eu moro em Olinda, queria que você fizesse uma xícara com a minha casa”. E a gente faz, temos essa essa coisa de fazer o pedido personalizado”, explicou a artesã.
Irmãs Neire Almeida e Mery Silva
Irmãs Neire Almeida e Mery Silva. Foto: Matheus Ribeiro/Folha de Pernambuco.
Ainda dentro do universo místico do Sítio Histórico de Olinda, Arthur Luiz retrata o folclore pernambucano em madeiras antigas que resgata do local, com entalhe em baixo relevo e pintura em tinta acrílica. Focando em festas populares como Carnaval e São João, o artesão busca retratar as expressões culturais da cidade histórica de Olinda. O valor das peças varia a depender da encomenda.

“Gosto de retratar a cidade de Olinda como um morador do sítio histórico, há 35 anos. Sempre busco trazer a temática do folclore pernambucano, principalmente os foguetes, as festas populares, como o Carnaval, o São João e algumas outras. Partindo dessa ideia cultural, gosto de trazer o cenário da cidade histórica de Olinda, com suas cores, arquitetura colonial, geografia, em uma paleta de cor que remete à cidade. Acaba que o meu trabalho tende a ter essa identidade visual por conta da paleta da cor”, detalhou Arthur.

Arthur Luiz retrata o folclore pernambucano em madeiras antigas que resgata do local

Compartilhando desse sentimento de ressignificar materiais como a madeira, o engenheiro Rodrigo Soares decidiu fazer arte com o que sobrava das construções em que atuava. Da mistura de madeira, resina e pigmento surgiram diversas tábuas, petisqueiras, mesas de jantar, e uma extensa variedade de itens para recepção.

“Tenho como inspiração os formatos da natureza, as cores, os tons de azul, verde, valorizar também a borda orgânica das peças”, explicou Rodrigo. As peças custam a partir de R$ 100 e podem ultrapassar o valor de R$ 1.000, a depender da encomenda.
Rodrigo Soares decidiu fazer arte com a mistura de madeira, resina e pigmento

Resgate
‘Ressignificar’ talvez seja a palavra que melhor representa a variedade de itens em exposição no Pernambuco Centro de Convenções. O artesão Leandro Loureiro ressignificou a obra de J. Borges para homenagear o amigo Givanildo, sobrinho do xilogravurista, que faleceu em 2022, em um trabalho único que batizou de “Xilo 3D”.

“Eu pedi autorização da esposa dele para fazer essa homenagem para ele, sempre ficávamos na mesma rua aqui na fenearte. Quando ela liberou, pensei: “Tem que fazer uma coisa bem diferente!”. Como ele faleceu e partiu para outro plano, a xilogravura também saiu do plano bidimensional e para o plano tridimensional”, compartilhou o artista.

As xilogravuras em 3D podem ser adquiridas por valores a partir de R$ 60 até R$ 2.500.

O artesão Leandro Loureiro ressignificou a obra de J. Borges

De Chã de Alegria, na Zona da Mata Norte de Pernambuco, o mestre Joselias Santos resgatou da infância a memória afetiva que se tornou seu ofício e principal fonte de renda.

“Eu comecei fazendo para brincar e também vender a meus coleguinhas, às vezes até doar, quando era criança. Com a covid, eu fiquei desempregado e fui encorajado por amigos a fazer para vender. Comecei com pequenos móveis e, com as sobras, fazia os carrinhos. Porém, eles caíram mais no gosto das pessoas do que os próprios móveis”, contou o mestre.
Hoje, sua produção se divide em duas linhas: brinquedos para crianças (com foco na segurança) e peças de decoração. Os preços variam de R$ 20 a R$ 1.100, sendo o valor mais alto para peças de decoração.

Joselias Santos
Joselias Santos produz brinquedos para crianças e peças de decoração. Foto: Matheus Ribeiro/Folha de Pernambuco.
Narrativa
Tiago Salvador, artesão de moda sustentável, utiliza retalhos de tecido, principalmente linho puro, para criar suas peças. Sua marca surgiu como complemento de renda, aproveitando seu conhecimento em costura aprendido com o pai, que reformava estofados.

Apesar de não ter formação em moda, Tiago gosta de escrever e contar histórias. Suas coleções são baseadas em narrativas e personagens criados por ele, com os figurinos destes personagens se transformando no produto final da marca.

A última coleção, “Loucos de Amor”, é uma colaboração com o psicólogo e poeta Breno Diniz, utilizando textos escritos por ele como inspiração. Com acessórios a partir de R$ 59, o valor das peças estilizadas por Tiago varia, podendo chegar a R$ 780.

“Como eu só sei contar histórias, a partir disso, convidei ele para fazer a coleção, a partir de uns escritos que ele tinha em casa guardados e eu disse: “Nossa, isso é muito legal, eu acho que dá para fazer uma coisa boa”.

Também partindo do conceito de ‘upcycling’ a Vitalina, que existe há 10 anos e produz artigos de couro artesanalmente, de forma sustentável, reutilizando retalhos do material para a confecção de sandálias e acessórios com design criativo e divertido. Os preços dos produtos variam entre R$ 27 e R$ 329.

“A marca começou realizando pequenas alterações em produtos, tirando uma tarraxa, uma fivela, uma florzinha, e daí, com o tempo, contratamos a estilista Tânia Collier, que faz o processo de desenvolvimento, pesquisa e desenho dentro da nossa marca. Dentro do escritório a gente passa do 2D para o 3D, faz a modelagem e depois vai para os artesãos para fazer o corte e a montagem do produto”, explicou Carol Dreyer, criadora da marca.
Carol Dreyer, criadora da marca

Além da arte para decorar e vestir, também é possível encontrar arte comestível na Fenearte. O chefe de confeitaria Ywri Rafael, criou uma cozinha 100% inclusiva e natural que utiliza, além dos ingredientes saudáveis, elementos da botânica para a elaboração dos doces e salgados da Manuê. Os bolos são vendidos a partir de R$ 19, a cada 100g. O valor dos salgados varia na casa dos R$ 30.

“Sempre fui apaixonado por botânica e flores, sonhava em ter uma floricultura na infância. Minha inspiração para criar produtos visualmente bonitos, com flores, veio da observação da natureza, principalmente das flores em parques próximos à minha casa”, contou o chefe.
“A confeitaria surgiu por muitas coincidências, mas o mais importante de tudo é a história de resistência. Eu quis construir uma confeitaria que não usasse açúcar, trigo e o mais importante de tudo, não usasse leite. Tanto que, hoje, a nossa confeitaria é especializada nesse tipo de trabalho”, concluiu.

Outro sucesso gastronômico e criativo da feira são as tradicionais trufas da H&C, criadas e confeccionadas pela recifense Heide Gomes, de 66 anos, na sala do seu apartamento, no Recife. Ponto obrigatório da Fenearte, há 23 anos, Heide conquistou o público com sabores criativos, como a trufa de queijo do reino. Cada trufa é vendida a R$ 5.

“São muitos anos de trabalho com trufas, já faz 24 anos que as faço e essa é a minha 23ª feira. Mesmo assim, é um sucesso todo ano. Ao criar sabores como a trufa de queijo do reino, a minha ideia era aumentar a quantidade de sabores, fazer aquela coisa bonita que você compra e come com os olhos”, relatou.
Heide Gomes

Redação

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *