Desmoronamento em Tabatinga: especialista adverte sobre perigos das erosões de falésias

Desmoronamento em Tabatinga: especialista adverte sobre perigos das erosões de falésias

Desmoronamento em Tabatinga: especialista adverte sobre perigos das erosões de falésiasGeólogo enfatiza importância do monitoramento e restrição de acesso para prevenir deslizamentos em falésias do RN

Entre os pontos mais bonitos do Rio Grande do Norte, a praia de Tabatinga, em Nísia Floresta, na Grande Natal, tem sofrido com erosões. Segundo um geólogo, não apenas pelos fatores naturais, mas também pela interferência humana, pelo sistema de drenagem pluvial e pela falta de fiscalização. O período chuvoso é outro fator que pode acelerar estes processos.

No último caso, registrado na semana passada, inclusive, houve um desmoronamento. Após o acontecimento registrado no dia 26 de março, a Defesa Civil do município de Nísia Floresta afirmou que, no momento do desabamento, não havia ninguém no local e nenhuma pessoa se feriu. Com isso, o órgão ainda no local alertou os banhistas sobre a importância de manterem distância dos paredões de areia.

Para o geólogo e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Venerando Eustaquio, o caso de Tabatinga, no entanto, não é um caso isolado, já que diversos incidentes foram registrados também em praias como as de Pipa e Cotovelo.

“Nos deparamos com falésias que consideramos ativas, que são aquelas que têm contato direto com a energia transferida pelos oceanos através das ondas, das correntes, das marés em direção a esses setores que já se mostram extremamente fragilizados pelo processo erosivo que carreou completamente as praias que ficavam ali naquela região defrontante às falésias, que sofrem um processo erosivo e permitem que uma energia mais intensa alcance a base dessas falésias promovendo a erosão desses setores e o movimento desses blocos, dessa massa de rocha”, explicou.

Além dos problemas naturais causados pela força das ondas do mar, o geólogo aponta as causas humanas como outro motivo para esses deslizamentos de terra, tanto pela falta de fiscalização quanto pela frequência de turistas nesses locais.

“É uma situação que ainda se complica pelo uso que se faz de maneira inadequada e muitas vezes de maneira desordenada, sem fiscalização das áreas próximas às bordas dessas falésias, ao que nós nos referimos como talude, a região mais íngreme dessas falésias, tanto na parte superior, como é o caso da região da Praia de Pipa, no chapadão, que é muito utilizado pelos turistas como um ponto de contemplação, faz com que esses turistas se aproximem demais da região de borda aumentando o risco de acidentes e igualmente na posição da base, onde as pessoas buscam a sombra das falésias”, disse.

Com a chegada do período chuvoso, Venerando afirma que o processo de erosão pode se intensificar, devido à chegada da chuva até o talude e na parte superior da falésia fazendo com que ocorra a corrida da água no solo declinado, o que causa a erosão. Por causa disso, ele destaca ainda que as chuvas serão algo bem comum nos próximos meses, com mais intensidade em um curto espaço de tempo, o que pode causar mais deslizamentos nesses locais.

Outro fato apontado por ele para a intensificação dos desmoronamentos, é também o precário sistema de drenagem pluvial do estado. Segundo o geólogo, essa drenagem tem que controlar o escoamento superficial da água da chuva. No entanto, ela é direcionada para o sistema de bueiros, que, por fim, é direcionada diretamente nas falésias ou nas praias.

“O que acontece então é um processo de aceleração dessa erosão. Então uma das coisas que a gente vem alertando ao poder público, aos gestores da orla municipal e estadual, é que há necessidade importantíssima e mais do que urgente de se planejar um outro sistema de drenagem pluvial para essas áreas costeiras, não é mais aceitável que as águas da chuva sejam carreadas diretamente para as falésias e para as praias, porque elas aceleram o quadro erosivo. Isso é uma das coisas que com as mudanças climáticas, com a aceleração das chuvas num volume muito alto, grande e num curto espaço de tempo, nós vamos ter cada vez mais esse processo afetando com a erosão sobre essas falésias e também sobre as praias”, ressaltou.

Prevenção

Em relação à prevenção dos desmoronamentos, o profissional alerta para o monitoramento das áreas afetadas. “No instante em que nós temos uma falésia com uma praia arenosa em frente a ela e essa praia desaparece, a energia das ondas e das correntes bate diretamente nessas falésias, promovendo a erosão delas e o desmoronamento. O que nós podemos fazer, como nós já sinalizamos através de vários estudos, [é verificar] onde são esses locais com maior vulnerabilidade a esse tipo de situação. O ideal é que o Estado e os municípios, apoiassem o monitoramento dessas áreas”, apontou.

Apesar de ser considerada uma atitude que precisa ser analisada pelos órgãos, Venerando aponta como outra forma de prevenção de deslizamentos o impedimento de pessoas nesses locais com risco de desabamento, tanto na parte de baixo como no topo das falésias. “Essas falésias não avisam no momento que elas vão desabar. Elas dão sinais, elas começam com pequenas movimentações de massa, de material, elas também já são identificadas como aquelas que têm algum tipo de possibilidade de desmoronamento iminente e isso é uma das ações que poderiam ser feitas”, afirmou.

“O que nós podemos fazer é tentar buscar mitigar esses aspectos, evitar a ocupação dessas bordas, evitar que as pessoas lancem os fluidos, a drenagem superficial é lançada direta nas falésias, muitas comunidades jogam toda a quantidade de chuva excedente que cai no município em direção ao mar sobre as falésias. Então, isso tudo é um dos fatos que a gente vem relatando como possíveis elementos que podem ser controlados e aí reduzindo assim um pouco esse efeito de erosão, retração dessas falésias, fazendo com que elas tenham uma estabilidade por um tempo maior”, finalizou.

Redação

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