Uma viagem à infância
Sphaera Rock Orquestra promete emocionar o público pernambucano com interpretações das trilhas sonoras de Cavaleiros do Zodíaco e Dragon Ball
Comoção nacional tão expressiva que os mais desavisados poderiam confundi-lo com algum brasileiro. Figura emblemática na infância de milhões, o criador de Dragon Ball é símbolo da integração cultural japonesa no Brasil, que teve início com a chegada de imigrantes em 1908 e se consolidou durante a febre de produções vindas do Japão, os animes e tokusatsus, na TV brasileira dos anos 1990 e 2000. Os clássicos Cavaleiros do Zodíaco e Dragon Ball são exemplos vivos de como o tempo não diminui o amor do público. Com isso em mente, a Sphaera Rock Orquestra presenteia os fãs pernambucanos com uma viagem nostálgica nesta sexta (12) e sábado (13), no Teatro do IMIP, a partir das 20h30, por meio de uma imersão musical nos temas de abertura e trilhas sonoras dessas animações.
A regência fica à cargo do maestro Alexey Kurkdjian, fundador da Orquestra em 2007. O objetivo era estabelecer um centro de pesquisa e interpretação da música contemporânea, sem se limitar a um gênero específico – porém outra motivação tocou o coração de Alexey. “Surgiu de uma necessidade de retomar o sentido o qual me fez querer ser músico em primeiro lugar, aquele sonho puro típico de uma criança, que muitas vezes no decorrer da vida acaba sendo esmagado pelas demandas da vida e da sociedade”. Para o futuro, o projeto tem planos de explorar as trilhas sonoras de Naruto, Harry Potter, Star Wars e qualquer arte capaz de gerar música.
A bagagem de rock e metal do maestro tornou mais fácil a tarefa de compor os novos arranjos para as músicas de Dragon Ball e Cavaleiros do Zodíaco, que possuem uma base instrumental similar à da Orquestra. “Não penso tão racionalmente, deixo que minha mente crie os arranjos enquanto ouço as músicas, no momento em que estou curtindo. Quando sinto que criei algo relevante, sento para escrever as ideias na partitura, aí chega a vez da técnica e da razão trabalharem juntas da inspiração e da criatividade. Por isso acredito que, independente de talento, todo músico deve dominar sua linguagem, estudar muito, e sempre, mesmo após sua formação acadêmica”, esclarece Alexey, sem dar pistas sobre os repertórios.
A estrutura dos animes – termo japonês para desenhos animados – como se conhece hoje surgiu no pós-Segunda Guerra, principalmente devido à censura durante a ocupação norte-americana. “Essa forma artística demorou a se tornar popular no Ocidente. Existem vários motivos para isso, mas o principal é o estranhamento do público com os códigos do anime em relação aos cartoons americanos”, conta Marcos Buccini, pesquisador de animação em Pernambuco. No Brasil, as produções ganharam espaço a partir da década de 1980, como os animes Patrulha Estelar e Piratas do Espaço. As obras japonesas se popularizaram nas casas brasileiras nos anos 1990, com Dragon Ball e Cavaleiros do Zodíaco sendo transmitidas pela TV Globo e Manchete, respectivamente.
Os shows da Sphaera Rock Orquestra realizados no Recife reforçam a descentralização dos eventos de cultura pop, que historicamente estavam mais presentes nas regiões Sul e Sudeste. Segundo Buccini, o avanço tecnológico favoreceu a ampliação do consumo de mídia japonesa por diferentes faixas etárias e classes sociais. “A facilidade da disseminação de informações acaba criando uma base de fãs em lugares que tempos atrás nunca seria possível. Quanto mais gente interessada, mais fácil conseguir a realização de eventos maiores. Acredito que o Nordeste tem bastante gente interessada em cultura pop, da qual a animação e os quadrinhos japoneses fazem parte”, ressalta.
Ao mesmo tempo que o público retorna à infância ao lembrar das aventuras de Seiya e Goku, a nostalgia também serve de combustível para Alexey Kurkdjian, embora permaneça em segundo plano no palco. Em primeiro lugar, Alexey é guiado pela paixão de fazer música. ”Antes de Dragon Ball ou Cavaleiros do Zodíaco, sou fã da arte”. O respeito pelas suas memórias e do público é um compromisso dele para interpretar as trilhas sonoras da maneira mais fiel possível. “Para mim, conduzir essa jornada é como uma missão, é uma responsabilidade grande lidar com a memória afetiva das pessoas, assim como a minha própria. É um compromisso com qualidade e com a verdade”.