Fusão da Cobasi e Petz criaria gigante do varejo com 13 lojas no Ceará
Empresas estão em negociação para formarem o maior conglomerado do mercado pet do País; especialistas rechaçam monopólio inicialmente e miram competitividade de pequenos e médios negócios
Em franco crescimento no varejo nacional, o mercado pet foi destaque na semana passada com a abertura do processo de fusão das gigantes Petz e Cobasi. A primeira, com capital aberto na Bolsa de Valores, emitiu um fato relevante para os acionistas em que confirma a união com a atual concorrente.
A análise da fusão ainda precisa passar por uma série de processos, o que pode levar meses. O principal órgão que analisa essas mudanças é o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), e a tendência é que Petz e Cobasi constituam uma única empresa futuramente.
De acordo com especialistas ouvidos pelo Diário do Nordeste, é pouco provável que a fusão entre os dois conglomerados possa ser vetada pelo Conselho pelas características do mercado pet, marcada pela pulverização do setor varejista (o que exclui clínicas veterinárias e atendimentos médicos para animais), dominado por pequenos e médios negócios.
No Ceará, as duas empresas têm, juntas, 13 lojas. A Petz tem cinco estabelecimentos, todos em Fortaleza, enquanto a Cobasi tem oito — três deles que ostentam a marca Mundo Pet, marca cearense vendida para a rede paulista. As unidades ficam tanto na Capital quanto em Eusébio e Maracanaú.
Procuradas pela reportagem, a Petz informou que mantém cinco lojas no Ceará, todas em Fortaleza e emprega 7.300 colaboradores em todo o Brasil. Questionada sobre a fusão, a empresa pontuou “que haverá sim a permanência e coexistência das marcas”. Até o fechamento deste texto, a Cobasi não retornou o contato com as informações solicitadas.
TAMANHO DO NEGÓCIO
Somente em 2023, o faturamento do mercado pet no Brasil foi de R$ 68,7 bilhões. Os dados são da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet) em parceria com o Instituto Pet Brasil.
Especialmente no que diz respeito ao varejo alimentício para animais (chamado de pet food), o faturamento foi de R$ 38,1 bilhões, 55,5% do total, à frente de pet vet (atendimento veterinário) e pet care (serviços como banho e tosa).
Diferente de outros segmentos do varejo, como o setor de supermercados, o domínio do mercado pet fica nas mãos dos pequenos e médios negócios, como pet shops e casas de ração. O faturamento dessas lojas foi de aproximadamente 50%. Estabelecimentos megastore, como a Petz e a Cobasi, aparecem somente na terceira posição, com 9% do montante do mercado pet no ano passado.
A fusão entre Petz e Cobasi deve criar, possivelmente, o maior conglomerado de produtos pets do Brasil. Somados, os faturamentos brutos das duas empresas em 2023 chegaram próximos dos R$ 7 bilhões.
FUSÃO NÃO DEVE CRIAR MONOPÓLIO
Apesar da eventual criação desse gigante do mercado pet, uma possível concentração de público nas mãos do novo conglomerado está, pelo menos inicialmente, descartada.
É o que indica Antonio Gomes Vidal, professor de Trade Marketing Omnichannel da Universidade de Fortaleza (Unifor). Como a maior parte do faturamento do mercado pet está nos pequenos e médios negócios, isso infere que a fusão das duas empresas não mexe com a pulverização do segmento.
“Esse é um mercado muito grande e pulverizado, portanto há ainda muito espaço para fusões e aquisições na parte de cima da pirâmide, e também espaço para as pequenas, médias redes e lojas de bairros que representam o maior volume consumidores. A indústria do pet é bem democrática quando analisamos as classes que compram produtos e serviços para esse segmento de mercado. Essas fusões acontecem à margem das pequenas e médias lojas que ocupam maior volume de venda e consumidores”, analisa.
O consultor de empresas e professor da Faculdade CDL, Christian Avesque, recorda a compra da Mundo Pet pela Cobasi, negócio que se concretizou em 2023, e pondera que a fusão é resultado de uma tendência de mercado no setor de varejo para animais que não são focados em atendimento veterinário ou serviços de banho e tosa.
“O primeiro movimento é uma sinergia de lojas para poder potencializar o faturamento por metro quadrado, ter sinergia de ponto de venda, centros de distribuição integrados, trabalhar layout de loja e o ponto de venda. Segundo movimento é pressionar muito fortemente as indústrias para ter maior margem de lucro na prateleira, e acredito que essas duas empresas vão criar marcas próprias para poder competir com as principais marcas de mercado, principalmente as multinacionais”, classifica.
Das duas empresas, a única que tem marca própria de produtos é a Petz, cujas vendas são responsáveis por 8,5% do faturamento anual da bandeira. O conglomerado também é o único a ter capital aberto na Bolsa de Valores brasileira, a B3, em ações abertas desde 2020. Com o anúncio do processo de fusão, os papéis da empresa subiram quase 50% em uma semana.
DESAFIO NA PULVERIZAÇÃO
Antonio Gomes Vidal reforça que “será uma jornada difícil e longa competir com pequenas e médias lojas de vizinhança”, e que a fusão entre Petz e Cobasi abre caminho para explorar um setor com potencial de crescimento pouco explorado.
Existe muito espaço para o crescimento do setor, seja no incremento de novos produtos e serviços proporcionados pelas grandes indústrias multinacionais que operam nesse setor ou no crescimento orgânico de vendas, além do comércio online que é ainda pouco desenvolvido. Essa possível fusão mira sinergias necessárias, como otimização do plano de abertura de novas lojas, maior preparação para atuar no e-commerce e redução de custos gerais e administrativos.
Professor de Trade Marketing Omnichannel da Unifor
Ainda de acordo com os dados da Abinpet e do Instituto Pet Brasil, o Brasil é o terceiro maior mercado do mundo no segmento, com 5% de participação mundial. Estados Unidos (43,7%) e China (8,7%) aparecem na primeira e segunda posições, respectivamente.
Para Christian Avesque, o grande desafio na consolidação do mercado pet no País é a pulverização em pequenas e médias lojas, que vendem produtos de baixo valor agregado e, por vezes, fracionado.
“O que a gente tem no nosso mercado é muita informalidade ainda, principalmente nos bairros que têm um nível de renda mais baixo. Muita gente vendendo rações, produtos sem nota, ou então fracionado e o ticket muito baixo”, diz.
O consultor de empresas arremata a questão projetando que a união entre Petz e Cobasi deve incrementar a participação no mercado pet nos mais variados canais de venda, seja com a abertura de mais lojas físicas ou com maior posicionamento dentro do e-commerce.
“Acredito que elas vão fazer um investimento muito forte no e-commerce, trabalhando o marketplace desses itens que não são médicos. Acredito também que vão criar espaços nas grandes cidades de entretenimento para os pets e os tutores. Acho que essa parte de serviço, de qualidade de vida para os animais, seja um caminho que deve ser seguido”, finaliza Avesque.