Língua Negra: Especialista alerta para futuros impactos ambientais em Areia Preta
Ocorrência se dá devido à ausência de saneamento básico e tem graves consequências para o ecossistema marinho e a saúde humana
A Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte (ALRN) promoveu, nesta segunda 29, audiência pública para discutir o problema da “língua negra” na praia de Areia Preta, em Natal. A “língua negra” é uma mancha de sujeira formada pelo esgoto que corre dos bairros para a areia da praia e em direção à Via Costeira, na Zona Leste, e causa inúmeros impactos ambientais negativos.
De acordo com Sérgio Macedo, coordenador do Núcleo de Monitoramento Ambiental do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do RN (Idema), a “língua negra” presente diariamente na praia de Areia Preta se dá devido ao lançamento de esgotos sanitários sem tratamento advindo do bairro de Mãe Luiza.
Manchas de sujeiras são formadas por esgoto e água servida despejadas na praia. Foto: José Aldenir / Agora RN
Ele afirma que, apesar da existência de rede coletora de esgotos sanitários nesse bairro, que é de responsabilidade da Caern, muitos moradores fazem ligações clandestinas de águas servidas diretamente nas sarjetas das ruas. “Esses esgotos caem no sistema de drenagem de águas pluviais do bairro e são concentrados na galeria existente sob a escadaria de Mãe Luiza, sendo despejados nas areias de Areia Preta, formando o que chamamos de ‘língua negra’”, explicou.
A Resolução Conama nº 274/2000, que define os critérios de balneabilidade em águas brasileiras, no Art. 2º, parágrafo 4º, especifica que as águas serão consideradas impróprias para recreação de contato primário, entre outros, quando no trecho avaliado, for verificada a “Presença de resíduos ou despejos, sólidos ou líquidos, inclusive esgotos sanitários, óleos, graxas e outras substâncias, capazes de oferecer riscos à saúde ou tornar desagradável a recreação”.
“O principal impacto é o risco de uma pessoa contrair uma doença de veiculação hídrica devido o contato direto com os esgotos sanitários na própria língua negra ou nas águas da praia que está recebendo esses efluentes líquidos”, comentou Macedo.
O coordenador do Núcleo de Monitoramento Ambiental do Idema afirmou que a solução para acabar com esse descarte diário de esgotos sanitários sem tratamento na praia seria, inicialmente, os órgãos diretamente envolvidos se reunirem e realizarem uma campanha com vistorias técnicas para identificar os responsáveis pelas ligações clandestinas de águas servidas na rede de drenagem de águas pluviais.
Uma vez identificado os responsáveis pelas ligações clandestinas, caberá à Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Semurb) ou ao Idema adotar as medidas cabíveis para exigir dos mesmos, o mais breve possível, a suspensão imediata das ligações clandestinas de esgotos sanitários na rede de drenagem de águas pluviais e a imediata interligação desses efluentes à rede coletora de esgotos sanitários existente no bairro, de responsabilidade da Caern.
“Nosso entendimento é que essas ações conjuntas de vistorias técnicas devem ser procedidas por equipe composta por técnicos da Semurb e do Idema, juntamente com o apoio de técnicos da Seinfra (Secretaria Municipal de Infraestrutura) e da Caern”, detalhou Macedo.
“Grave problema para saúde pública”, alerta ambientalista sobre Areia Preta
As “línguas negras” representam um grave problema para a saúde pública, as praias e o meio ambiente marinho. É o que alertou o ambientalista Francisco Iglesias, ao falar sobre o fenômeno registrado em Areia Preta.
Segundo ele, as línguas surgem devido à falta de educação ambiental da população sobre a conexão inadequada de esgotos domésticos com a rede pluvial, que ocorre principalmente devido à ausência de saneamento básico. Além disso, a falta de fiscalização contribui para a persistência desse problema. As consequências incluem impactos negativos diversos.
“A presença destas têm graves consequências para o ecossistema marinho e a saúde humana. Afeta a biodiversidade, contamina a cadeia alimentar marinha e pode causar doenças em quem consome frutos do mar. Além disso, contamina as praias, matando micro-organismos e a fauna costeira. As pessoas também correm o risco de contrair doenças, como disenteria bacteriana e hepatite, ao entrar em contato com esgoto contaminado. Essas consequências têm um impacto significativo no meio ambiente e no turismo, prejudicando a qualidade de vida e a saúde pública”, explicou.
Iglesias revelou ainda que, para resolver o problema, é essencial que as autoridades invistam em saneamento básico abrangente, incluindo tratamento completo de esgoto e prevenção de danos à infraestrutura.
“Isso reduzirá as interconexões inadequadas de esgoto com o sistema pluvial. Além disso, é crucial investir em educação ambiental e aumentar a fiscalização para coibir atividades ilegais de interligação direta de esgoto. Essas medidas são fundamentais para melhorar a qualidade das praias e promover a saúde pública.”, finalizou.