Mulheres se inspiram em tradição herdada das mães e vivem da pesca em Natal: ‘Quando entro no mar me sinto realizada’
No Rio Grande do Norte há mais de 6 mil mulheres com carteira profissional da profissão. Atividade tem passado por gerações em muitas famílias potiguares.
Por Pedro Trindade, Inter TV
A profissão de pescador rende ao Rio Grande do Norte resultados na economia, devido às exportações e consumo interno, mas também conta a história de mulheres e comunidades que sempre tiveram na profissão o principal meio de subsistência.
Em Natal, pescadoras se espelharam em mulheres da própria família para dar início à jornada na atividade, que historicamente esteve ligada mais aos homens, fato que tem mudado.
Esse é o caso de Núbia Peixoto, que acompanhava a mãe na pescaria quando era pequena.
“A gente vinha acompanhando ela, e eu acabei tomando gosto. Eu tinha apenas 10 anos. Vi que nesse mar tinha o meu sustento”, contou.
Núbia caminha todos os dias 25 minutos de casa até a beira-mar para trabalhar.
“Entro mar a dentro e não tenho medo. Meu marido me acompanha porque também é pescador, mas eu faço todo meu trabalho”, reforçou.
Mais do que a tradição familiar, a pescadora hoje tem o respaldo de pertencer, de fato, à categoria com a carteira profissional da atividade.
De acordo com levantamento do Painel de Consultas do Registro Geral da Atividade Pesqueira, de novembro de 2023, o Brasil tem 1.035.478 pescadores profissionais ativos – com carteiras -, sendo 49% mulheres.
No RN, são 14.238 licenciados, sendo 6.135 mulheres e 8.103 homens.
‘O mar encanta’
Núbia e outras mulheres que trabalham nas praias da capital potiguar costuma ir ao mar de segunda a sábado – isso quando o tempo e a maré permitem.
O uso da força durante as atividades é constante, o que não desistimula Núbia. “Às vezes eu sinto umas dores, principalmente nos braços, mas eu não desisto. Eu gosto disso aqui”, contou.
A pescaria também encantou a pescadora Ana Leitão, que só conheceu o mar depois dos 20 anos de idade. Depois disso, foi paixão à primeira vista.
“Eu comecei na pescaria há 15 anos por causa do meu marido. Ele é pescador e eu acabei conhecendo esse trabalho. Me encantei, porque o mar é maravilhoso. Quando entro nele, me sinto realizada. Não é fácil, mas é possível”, disse.
O dia dela começa cedo, às 5h. Assim como muitas mulheres, além da atividade profissional, ela tem o trabalho doméstico para dar conta. Ela diz que costuma dormir apenas a meia-noite.
Apesar de encarar o mar diariamente, Ana Leitão não sabe nadar. E esse é um dos principais sonhos dela atualmente.
“É um dos meus sonhos aprender, para conseguir mergulhar nele. Acho que para mim é uma forma de agrqadecer por tudo que ele já me deu. Não só para mim, mas também para a minha família”, disse.
Uma vida dedicada à pescaria
Ana Leitão e Núbia Peixoto colhem o que foi plantado – ou mellhor, pescado – anos atrás por pescadoras e marisqueiras como Elenide Coreia, que tem 85 anos. Ela teve uma vida dedicada à essa atividade.
Elenide é outro exemplo de quem começou a cair no mar acompanhando a mãe na Vila de Ponta Negra, em Natal, onde ela vive até hoje.
“Eu ia para a praia, levava meus meninos, deixava eles brincando, enquanto eu pescava, pegava mariscos. Chegava em casa, fazia o que tinha e enchia a barriga deles”, disse.
“Meus filhos iam todos alimentados para a escola. Meu desejo é que eles não tivessem fome. Consegui criar eles com o dinheiro do mar”.
Há 10 anos, as dores nas pernas passaram a impedir Elenide de atuar como marisqueira e pescadora. Hoje, ela planta, colhe e vende mangabas e trabalha como rendeira.
“Eu me considero uma mulher feliz. Criei meus filhos, estou andando, conversando, vou para o meu forró, para o pastoril”, disse.