Escolas quilombolas da rede estadual promovem atividades de resistência na Semana da Consciência Negra
Sergipe conta com quatro unidades escolares quilombolas na rede estadual de ensino; nelas, o dia 20 de novembro é preparado com antecedência
Nas quatro escolas quilombolas da rede estadual de ensino de Sergipe, o Dia Nacional da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro, vai além de uma celebração. A data se torna um marco de resistência, fortalecimento da identidade e valorização das raízes afro-brasileiras. As atividades realizadas destacam a riqueza cultural, promovem debates sobre o racismo e reforçam a necessidade de inclusão e igualdade e a promoção de uma educação antirracista.
Na Escola Estadual Gilberto Amado, localizada em Estância, no sul sergipano, o dia 20 de novembro é preparado com antecedência e já consta no calendário pedagógico da escola. As atividades incluem rodas de conversa, apresentações de danças afro-brasileiras, exposições realizadas pelos alunos e a batucada quilombola, uma expressão cultural marcante das comunidades quilombolas, que une percussão, canto e dança em celebração à herança africana. “Faço parte da batucada e participo de apresentações durante todo o ano. Isso é muito importante, pois é uma celebração da preservação da nossa cultura”, destacou a aluna Keila Shayara.
A escola também desenvolve, ao longo do ano, a matéria ‘Fazeres e saberes quilombolas’, com projetos voltados à questão do antirracismo por meio de palestras e rodas de conversa. Essa ação é parte do cumprimento da Lei 10.639 e do Selo Antirracista ‘Professora Maria Beatriz Nascimento’, um programa da Secretaria de Estado da Educação e da Cultura (Seduc) que fomenta e valoriza as atividades antirracistas nas escolas. “Trazemos essas discussões para fortalecer, dentro de sala de aula, a importância do respeito ao próximo e da luta contra o racismo”, compartilhou a diretora da unidade escolar, Rayane Luzia.
No Colégio Estadual Otávio Bezerra, situado na comunidade quilombola de Ladeiras, em Japoatã, a Semana da Consciência Negra teve início com uma palestra sobre educação antirracista. O evento abordou a histórica luta contra o racismo estrutural e as desigualdades sociais no país, engajando estudantes e a comunidade escolar. As atividades pedagógicas também fazem parte do Selo Antirracista ‘Professora Maria Beatriz Nascimento’. “Reunimos alunos e professores para uma tarde de reflexão e aprendizado, que renovou nossas energias na luta pela igualdade racial, um compromisso de todos nós”, destacou a diretora da escola, Maria Clarisse Góes.
No Centro de Excelência Quilombola 27 de Maio, no povoado Mucambo, em Porto da Folha, alto sertão sergipano, as atividades de novembro promovem o pertencimento e a valorização da cultura quilombola. Desde a educação infantil até o ensino integral, a escola incentiva os estudantes a se reconhecerem como parte do quilombo. Grupos de teatro, samba de coco e capoeira ajudam as crianças e adolescentes a multiplicar sua cultura. As atividades também já foram inscritas no Selo Antirracista ‘Professora Maria Beatriz Nascimento’, como forma de reforçar as práticas pedagógicas e o resgate da identidade cultural. “Queremos resgatar essa cultura e integrá-la à educação dos nossos alunos”, enfatizou a professora Cláudia Brás.
No Colégio Estadual Quilombola 03 de Maio, em Brejo Grande, os alunos celebraram a Consciência Negra com uma programação cheia de significado. Entre danças, oficinas e uma paleta musical, o ponto alto foi a apresentação da peça ‘Um pedido de desculpa para a África’, uma produção autoral que expressou de forma artística e reflexiva a valorização das raízes africanas e o reconhecimento das injustiças históricas.
Educação antirracista em todas as escolas
O Centro de Excelência Profª Maria Ivanda de Carvalho Nascimento, localizado em Aracaju, por meio da Feira Cultural e Científica promovida entre os alunos e equipe de professores da escola, realizou palestras, oficinas e apresentações de projetos didáticos.
Na última segunda-feira, 18, os alunos puderam expor seus projetos de pesquisas científicos e pedagógicos aos colegas e professores. Na terça-feira, 19, foram realizadas comemorações voltadas ao Dia da Consciência Negra e ao Selo Antirracista Maria Beatriz Nascimento, como palestras que abordam as temáticas étnico-raciais, apresentação de capoeira e oficinas diversas. Na quinta, 21, após o feriado nacional, a feira terá sua finalização com as apresentações artísticas e culturais dos alunos, de grupos folclóricos e dos Bacamarteiros de Capela.
O Colégio Estadual João Batista do Nascimento, em Nossa Senhora do Socorro, desenvolveu uma programação com diversas atividades para celebrar a cultura afro-brasileira e refletir sobre a importância do combate ao racismo. Entre as ações realizadas destaca-se o clube de leitura antirracista, que promove discussões sobre igualdade e representatividade. O grupo é formado por alunos e professores que se reúnem periodicamente para debater obras literárias que abordam temas como identidade racial e a história afro-brasileira, principalmente de Sergipe. Um dos objetivos do clube é promover o uso de obras literárias elaboradas por escritores negros, visando incentivar a integração de temáticas étnicos-raciais no programa curricular da educação básica.
De acordo com o diretor do Colégio Estadual João Batista Nascimento, Dilson Sampaio, o clube de leitura antirracista visa ao destaque da importância da produção literária de indivíduos negros no contexto brasileiro, com ênfase em Sergipe.
O Arquivo Público do Estado de Sergipe (Apes), também localizado na capital sergipana, dispõe de dois dias de programação voltados à comemoração e à valorização da cultura negra no país. No dia 18, foram realizadas as oficinas ‘Beleza Negra’ e ‘Black Cinema’, com o objetivo de promover a reflexão sobre a história e a luta dos negros no Brasil, com atividades que incluem uma oficina de turbantes e uma sessão do Clube de Cinema Negro. No dia 21, será realizada no Colégio Estadual Jackson de Figueiredo a oficina ‘O Preço da Liberdade’, com foco na análise histórica das listas de classificação de escravizados, explorando suas implicações sociais e econômicas.
A diretora do Apes, Sayonara Nascimento Santana, comenta que as atividades realizadas nesta semana têm o objetivo de aprofundar o conhecimento sobre a presença da cultura afro na sociedade, mostrando a sua importância para o fortalecimento dos laços de identidade que nos unem. “O Arquivo Público do Estado de Sergipe tem como função social proporcionar reflexões sobre temáticas importantes e que auxiliam na compreensão da nossa história e da nossa cultura, a exemplo da Consciência Negra”, diz a diretora.
Selo Escola Antirracista
O Selo Antirracista ‘Maria Beatriz Nascimento’ tem como objetivo possibilitar a visibilidade e o reconhecimento das ações desenvolvidas pelas escolas que mantêm as práticas de combate ao racismo e em uma educação plural e diversa. O selo também fomenta nas escolas da rede pública estadual de ensino a efetivação das Leis 10.639/03 e 11.645/08, as quais tornam obrigatório o ensino da Cultura e História Africana, Afro-Brasileira e Indígena.
A primeira edição do selo foi entregue em março de 2024, correspondente às atividades realizadas em 2023. Foram contempladas 123 unidades escolares. A partir dessa certificação, as unidades de ensino se comprometeram a proporcionar uma educação diversificada e inclusiva, visando a eliminar a manifestação do racismo no ambiente escolar.
“O Selo propõe que as ações de implementação das Leis 10.639/03 e 11.647/08 sejam efetivadas durante os 200 dias letivos, e nessa semana específica as escolas utilizam para realizar culminâncias de projetos que foram desenvolvidos durante o ano, fortalecendo e efetivando ações de reconhecimento da contribuição do povo negro na formação de nossa sociedade”, destacou a coordenadora de Educação do Campo e Diversidade da Seduc, Geneluça Santana.