Aracaju 170 anos: a história contada através da arquitetura

Capital sergipana se divide entre o estilo vernacular, europeu e a verticalização
Em 17 de março de 1855, uma nova cidade surgia na então província de Sergipe Del Rey, criada para se tornar a nova capital em substituição à São Cristóvão. De acordo com a historiadora sergipana Cândida Oliveira, a transição ocorreu para facilitar as navegações portuárias da época e por conta de sua localização ser mais adequada.
“A mudança aconteceu por decisão do então presidente da província, Inácio Joaquim Barbosa, que queria uma capital mais moderna e estrategicamente localizada, para escoar a produção de açúcar”, comenta Cândida ao F5 News.
Historiadora e jornalista Cândida Oliveira – Cedido ao portal F5 News
Aracaju fica marcada por ser uma das primeiras cidades planejadas do país. “A cidade foi planejada desde o início, com um traçado em forma de tabuleiro de xadrez, algo inovador para a época. Esse planejamento foi realizado por Sebastião José Basílio Pirro”, acrescenta a historiadora.
A questão arquitetônica não se manifesta apenas nas ruas planejadas em direção ao rio Sergipe, mas também na maneira como os prédios e casas são construídos. O F5 News também conversou com o arquiteto e urbanista Ricardo Soares Mascarello. Ele explica que as origens arquitetônicas de Aracaju se misturam entre uma arquitetura vernacular – característica de uma localidade – tradicional do nordeste e das pequenas vilas de pescadores junto ao Rio Sergipe, visto que antes de se tornar cidade, a capital sergipana era um povoado chamado Santo Antônio de Aracaju.
“Com a consolidação do Plano de Pirro em 1855 os novos edifícios começam a sofrer influências da arquitetura eclética europeia. No final do século XIX com a vinda da missão italiana para Aracaju é consolidada a arquitetura eclética europeia com prédios com afrescos e fachadas ornamentadas. Durante a primeira metade do século XX os novos edifícios começam a receber a influência do Estilo Art Decó, do Protomodernismo e do modernismo propriamente dito. Estes estilos tiveram predominância no quadrilátero de Pirro e hoje se encontram espalhados pelo Centro Histórico e Centro Expandido/Bairro São José. Estas arquiteturas com influências europeias predominaram nas classes mais ricas que possuíam acesso aos profissionais da área”, explica Mascarello.
Arquiteto e urbanista Ricardo Soares Mascarello – Acervo pesssoal
“Nos bairros ao redor do Centro Histórico, temos a consolidação de uma arquitetura com características tradicionais e vernaculares que se espalharam pelo restante do tecido urbano fora do centro histórico e do Quadrilátero de Pirro. É importante destacar que no final dos anos 70, Aracaju começa a receber projetos de vários conjuntos habitacionais a exemplo do Augusto Franco e Orlando Dantas que se caracterizam por uma arquitetura padronizada e estritamente com aspectos racionais de construção”, adiciona o arquiteto.












De volta à contemporaneidade, a capital sergipana mistura vários estilos arquitetônicos, como as tradicionais de suas origens, vistos principalmente nos bairros bairros Industrial, Santo Antônio, 18 do Forte, Siqueira Campos e América, das suas influências europeias restantes, dos conjunto habitacionais dos anos 80 e da decorrente verticalização ocorrida a partir de 2000 através do mercado imobiliário da construção civil.
“Em uma suposta síntese desta diversidade constituinte, Aracaju convive hoje com resquícios do passado de sua origem, com as tipologias decorrentes dos programas habitacionais, da arquitetura vernacular popular da autoconstrução e principalmente, dos empreendimentos mais recentes das duas últimas décadas decorrentes dos novos condomínios horizontais e verticais produzidos pelo mercado imobiliário”, expressa Ricardo.
Numa realidade em que se vê a destruição da história que poderia ser contada através da arquitetura, Ricardo Mascarello compreende que devemos buscar pela preservação dos edifícios históricos que marcaram seus períodos temporais na cidade e principalmente as suas peculiaridades vernaculares e culturais.
“É importante lembrar que as arquiteturas de uma cidade se constituem por ações do poder público, da própria influência dos profissionais da área de arquitetura e urbanismo, da produção informal autoconstruída pela população e pelos agentes econômicos das construtoras. Nossa mensagem aqui nestes 170 anos de nossa querida Aracaju é propiciar o bom convívio entre todas elas e que nenhuma tenha supremacia sobre a outra para que possamos manter vivas todas as manifestações arquitetônicas e culturais que valorizam a diversidade de nossa cidade”, completa o arquiteto ao portal.
Diante dessa realidade de diversidade de cores, culturas, tradições e estilos arquitetônicos, Aracaju encanta quem passa por ela.