Conheça histórias de mulheres negras de religiões afro-brasileiras que formaram as ‘famílias de Santo’ na Bahia
Nesta quinta-feira(21), se comemora o Dia Nacional das Tradições de Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé. Lei federal que instituiu a data foi sancionada no ano passado.
A Bahia tem exemplos de mulheres negras que, dentro das religiões afro-brasileiras, reconstruíram a família destruída na escravidão formando as “famílias de Santo”. Nesta quinta-feira(21), se comemora o Dia Nacional das Tradições de Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé. A lei federal que instituiu a data foi sancionada no ano passado.
Celebrar o 21 de março não é apenas sobre religião. É sobre cultura, história e memória da sociedade, graças à luta de mulheres pretas, fortes e mães acima de tudo.
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São as matriarcas, ialorixás, senhoras do axé que resistiram através do sagrado, sustentando a sabedoria dos ancestrais e abriram portas para que as herdeiras pudessem garantir proteção espiritual e continuidade em suas comunidades.
Mãe Stella de Oxóssi
Mãe Stella de Oxóssi — Foto: Antonello Veneri/Divulgação
A enfermeira Stella em mais de quatro décadas no comando do Afonjá foi a primeira yalorixá do Brasil a escrever livros e artigos sobre candomblé. Em 2013, foi eleita por unanimidade para a academia de Letras da Bahia ocupando a cadeira que tem como patrono o poeta Castro Alves.
Mãe Stella de Oxóssi dá nome à avenida e tem a imagem como referência do sagrado na cidade. É no jogo de búzios que a nova matriarca é definida. A professora Ana foi escolhida em 2019 e assumiu o Ilê em 2022, se tornou a Sexta Senhora do Afonjá. Um legado de mulheres empoderadas.
Nova estátua de Mãe Stella de Oxóssi, em Salvador — Foto: Valter Pontes/ Secom
Mãe Neuza de Xangô
Mãe Neuza é a sétima ialorixá a comandar a Casa Branca — Foto: Rerodução
A Casa Branca é o mais antigo terreiro do Brasil. Primeiro monumento negro a se tornar Patrimônio histórico nacional há 40 anos. Mãe Neuza de Xangô comanda o local.
Herdeira do axé de Iyá Nassô e outras sete yalorixás. O sagrado feminino pela visibilidade religiosa e contra a invisibilidade social.
Matriarcado no Gantois tá no sangue
Em 1972, Dorival Caymmi lançou ‘Oração de Mãe Menininha’ em homenagem à mãe de santo — Foto: Acerto Terreiro do Gantois via BBC
A africana liberta Maria Júlia nazareth fundou o terreiro em 1849. Seguindo a herança familiar Mãe Menininha foi a quarta yalorixá a assumir o trono. E por 64 anos, a Oxum mais bonita, como é carinhosamente lembrada e cantada, fez história.
Bisneta da fundadora do Gantois, Menininha era uma voz de consenso que conquistou o respeito e influenciou a sociedade baiana do século XX.
Gal Costa e Mãe Menininha — Foto: Acervo Pessoal
Referência pra Artistas, políticos, esportistas, Mãe Menininha era também a yalorixá das yalorixás. Legado assumido primeiro por Creusa, a filha mais velha.
Carmem, a caçula de mãe Menininha, comanda Gantois desde 1997. Mãe pequena do Gantois, Ângela é uma das filhas de mãe Carmem. Uma herdeira do diálogo inter-religioso e de mulheres fortes e sábias.
Yá, Doné, Nengua, Mameto, Yalorixá ou simplesmente mãe de Santo…senhoras do axé que abraçam os filhos que não foram paridos e estão na vanguarda de luta e resistência do povo negro no Brasil.
Mãe Olga de Alaketu
Morre Mãe Olga, matriarca do terreiro Bate Folha, em Salvador — Foto: Divulgação
Herdeira da família real de Ketu, atual Benin, Mãe Olga foi para o Orum há 19 anos deixando legado de líder religiosa acolhedora, generosa e enorme facilidade pra ensinar e conciliar modernidade sem perder a tradição.
Mãe Bernadete Pacífico
Bernadete Pacífico, liderança quilombola da Bahia, foi assassinada — Foto: Conaq
Mãe Bernadete Pacífico morreu lutando na coordenação nacional de Articulação das comunidades negras rurais em defesa dos direitos quilombolas e do acesso pleno ao território. Ela foi assassinada com 25 tiros na casa que funcionava como sede da associação do quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho, Região Metropolitana de Salvador.
O crime foi em agosto do ano passado. Cinco pessoas foram presas e respondem por homicídio triplamente qualificado.
Mãe Bernadete — Foto: Jornal Nacional/Reprodução
Segundo a polícia, o crime contra a Yalorixá teria sido motivado por ela ter enfrentado interesses de uma facção do tráfico de drogas e um envolvido com extração ilegal de madeira.
O “trono” continua vazio. A próxima sacerdotisa deve ser escolhida no jogo de búzios e assumir o legado de Mãe Bernadete.
Mãe Aninha
Mãe Aninha criou a expressão ‘Roma Negra’ para Salvador — Foto: Acervo Ilê Axé Opô Afonjá Bahia
No Ilê Axé Opô Afonjá, Mãe Aninha, revolucionou. Em 1934, com ajuda do filho de santo, ministro Osvaldo Aranha, a yalorixá provocou a promulgação de um decreto presidencial no governo de Getúlio Vargas que colocou fim à proibição ao culto afro.
Mãe Runhó
Busto de Mãe Runhó em Salvador — Foto: Tv Bahia
A Doné do Bogum, Mãe Runhó, já era ecologista antes de se falar no assunto. Foi a terceira a comandar o terreiro que este ano foi homenageado pela Viradouro, escola campeã.
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Quinta Doné do Bogum, Mãe Índia, mantém a tradição africana de culto aos voduns, os encantados.
Mãe Gilda
Busto de Mãe Gilda em Salvador — Foto: Governo da Bahia
A yalorixá Mãe Gilda foi golpeada na cabeça com uma Bíblia depois de ter terreiro invadido e incendiado. A data de sua morte, 21 de janeiro, se tornou Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa.
Filha biológica, Mãe Jaciara herdou a missão sagrada e as lutas. Há um ano, uma nova data foi criada, 21 de março passou a ser Dia Nacional das Tradições de Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé.