36% dos passageiros de ônibus de Fortaleza levam mais de 1h para ir ao trabalho, mostra IBGE

36% dos passageiros de ônibus de Fortaleza levam mais de 1h para ir ao trabalho, mostra IBGE

Dados divulgados pelo Instituto nesta quinta-feira (9) fazem parte do questionário da amostra do Censo Demográfico 2022

A maioria das pessoas que mora em Fortaleza vão para o trabalho principalmente de ônibus, automóvel ou motocicleta. E o meio de transporte utilizado tem impacto no tempo que elas levam para chegar ao destino. Enquanto 36% dos passageiros de coletivos da Capital levam mais de 1 hora no trânsito, essa é a realidade de apenas 7% dos motoristas e de 6% dos motociclistas.

As informações foram coletadas no questionário da amostra do Censo Demográfico 2022 e foram divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira (9). Elas apresentam as características do deslocamento para trabalho ou estudo, com perguntas apenas para os moradores das residências com 10 anos de idade ou mais.

Para entender esse aspecto, o IBGE considerou o principal meio de transporte utilizado para a pessoa chegar ao local de trabalho. Caso ela utilizasse mais de um modal no trajeto casa-trabalho, deveria informar aquele em que permanecesse mais tempo durante o deslocamento.

Os dados coletados em Fortaleza mostram que o ônibus foi apontado como esse meio de transporte por cerca de 235 mil pessoas. A coleta considerou o BRT ou os ônibus de trânsito rápido como outra categoria, que foi citada por 2,3 mil cidadãos.

Em seguida aparecem o automóvel, citado por 231,6 mil pessoas, e a motocicleta, com mais de 114,9 mil usuários. Outras 110,3 mil pessoas afirmaram se deslocar ao local de trabalho a pé, enquanto a bicicleta foi destacada por 57.160 moradores da capital cearense.

Também foram listados pelo IBGE outros meios de transporte: táxi ou assemelhados; mototáxi; trem ou metrô; van, perua ou assemelhados; caminhonete ou caminhão adaptado (pau de arara) e embarcação de médio e grande porte (acima de 20 pessoas).

Da parcela da população que utiliza principalmente ônibus para ir ao trabalho, a maioria afirma passar “mais de meia hora até uma hora” no trajeto. Elas somam 96,9 mil pessoas, ou 41% dos passageiros de ônibus. Ainda no grupo dos que passam menos de 1 hora em trânsito, 19% (44,2 mil) levam “mais de quinze minutos até meia hora” e 9,3 mil (4%) fazem um percurso de até 15 minutos.

O segundo grupo com mais pessoas é o de residentes de Fortaleza que passam “mais de uma hora até duas horas” em ônibus a caminho do trabalho: mais de 79,3 mil. Eles representam 34% dos usuários desse transporte coletivo. Aqueles que passam mais de duas ou mais de quatro horas no ônibus são pouco mais de 5,1 mil pessoas, cerca de 2,2% dos passageiros que realizam esse tipo de deslocamento.

A crise do transporte público na capital cearense

Recentemente, nos últimos dias de setembro de 2025, a população que depende de ônibus em Fortaleza foi surpreendida com a suspensão de 25 rotas e a redução da frota de 29 linhas de ônibus. Como mostrou o Diário do Nordeste, a suspensão das linhas afetou mais de 90 bairros de Fortaleza por onde as rotas passavam, impactando a rotina de cerca de 9 mil pessoas.

A medida, revertida no dia 1º de outubro, foi adotada pelo Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus), que destaca o cenário de desequilíbrio financeiro enfrentado pelas empresas. Em entrevista à Verdinha FM no dia 29 de setembro, o presidente da entidade, Dimas Barreira, afirmou que faltam R$ 7 milhões para a conta do transporte fechar todo mês.

A crise ocorre em meio ao momento em que os passageiros estão “fugindo” dos coletivos e modais ativos — como bicicletas —, e passam a utilizar carros ou motos por aplicativo pela comodidade do serviço e o custo-benefício. Com isso, vem a redução da receita das operações de ônibus e o aumento da emissão dos gases poluentes. 

Especialistas ouvidos pelo Diário do Nordeste em reportagem especial sobre o tema afirmaram que uma das formas de reverter essa “fuga de passageiros” e retomar o acesso ao transporte público coletivo em Fortaleza é integrar os modais de transporte e repensar o modelo de financiamento — que hoje é baseado no pagamento por usuário transportado.

Uma das alternativas é a replicação de um modelo de pagamento por quilômetro rodado, que existe no Ceará desde o ano passado. No sistema metropolitano — que conecta os municípios da Região Metropolitana à Capital —, as empresas contratadas mediante licitações do Estado percorrem uma rota já estabelecida pelo setor técnico, com horários e frequência determinadas. Elas recebem o pagamento antecipado para funcionar.

Passageiros em frente a ônibus que chegou em terminal de Fortaleza.

Como os trabalhadores se deslocam no Ceará?

Ao se observar os dados do Censo Demográfico 2022 relativos a todos os municípios cearenses, o ônibus perde protagonismo. O principal meio de transporte para deslocamento até o trabalho, citado por mais de 749,6 mil pessoas, foi a motocicleta. Em seguida, aparece o deslocamento a pé — apontado por quase 475 mil cearenses —, seguido pelo automóvel, utilizado por 446,8 mil motoristas.

Os ônibus aparecem em 4º lugar, e quase 368 mil passageiros afirmaram que esse é o meio de transporte em que eles passam mais tempo para chegar ao local de trabalho. O quinto modal mais utilizado é a bicicleta, destacada por quase 201 mil pessoas. Também tiveram destaque as vans, peruas ou assemelhados, o mototáxi e o táxi ou assemelhados.

No cenário estadual, a proporção de passageiros de ônibus que passam mais de uma hora no trajeto para o trabalho fica um pouco menor do que a da Capital. Ao todo, são 114.246 pessoas, o correspondente a cerca de 31% dos usuários desse meio coletivo para esse tipo de deslocamento. Esse total considera aqueles que afirmaram passar “mais de uma hora até duas horas” (106,6 mil), “mais de duas horas até quatro horas” (7.590) e “mais de quatro horas” (56).

O segundo grupo em proporção dos que passam mais tempo no trânsito são os que usam automóveis. Considerando todos os municípios cearenses, eles são mais numerosos do que os usuários de ônibus, em relação ao deslocamento de casa para o trabalho. Mas a parcela desses 446,8 mil motoristas que passam mais de 1h para chegar ao local de destino é de 6% (27.596 pessoas).

Entre aqueles que adotam a motocicleta, apenas pouco mais dos 21,7 mil — 3% dos 749,6 mil — levam mais de 1 hora até o local de trabalho. Entre quem se desloca a pé, o total de 7.730 pessoas afirmam caminhar “mais de uma hora até duas horas” para o trabalho e 5 entrevistados disseram que levam “mais de duas horas até quatro horas” no trajeto

Como foi feita a pesquisa

Ao investigar o deslocamento da população, o IBGE considerou como local de trabalho aquele onde se situa o trabalho único ou principal na semana de referência. Havia cinco casos previstos:

  • Apenas em casa ou na propriedade: Quando a pessoa trabalha no município de residência, apenas em casa ou na propriedade;
  • Fora de casa e da propriedade: Quando a pessoa trabalha no município de residência, fora de casa e da propriedade, um dia na semana ou mais;
  • Em outro município do Brasil: Quando a pessoa trabalha em município diferente daquele em que mora, um dia na semana ou mais;
  • Em outro país: Quando a pessoa trabalha em país estrangeiro, um dia ou mais na semana;
  • Em mais de um município ou país: Quando a pessoa trabalha em mais de um município ou país.

A investigação sobre o tema se deu com a pergunta “em que município e Unidade da Federação ou país estrangeiro trabalha?”, feita apenas aos moradores do domicílio com 10 anos ou mais de idade, ocupados na semana de referência.

Em seguida, o entrevistado foi questionado se retorna para casa diariamente, para identificar as pessoas que efetivamente realizam esse deslocamento diariamente. Foi acrescida, ainda, uma pergunta sobre o tempo habitual de deslocamento de casa para o trabalho.

Caso o morador entrevistado possuísse mais de um trabalho, o recenseador deveria considerar, em todos quesitos investigados, as informações referentes à ocupação principal.

Segundo o Instituto, a informação sobre este tipo de movimento no território é fundamental para identificar as diversas funções desempenhadas pelas cidades, “seja na concentração de atividades geradoras de trabalho, seja na oferta de serviços de educação, ou mesmo de serviços de transporte”.

“O conhecimento da intensidade desses fluxos, além de facilitar o planejamento e a gestão dos sistemas de transporte, oportuniza a melhoria da qualidade de vida da população por meio da redução dos custos de transporte, do tempo gasto nos deslocamentos e da diminuição dos níveis de poluição, entre outros”, diz o IBGE, na documentação referente a esses dados do Censo Demográfico 2022.

O Censo Demográfico 2022 ofereceu aos cidadãos três modalidades distintas de participação: entrevista presencial, entrevista por telefone e autopreenchimento via internet. O questionário básico conta com 26 questões e investiga as principais características do domicílio e dos moradores.

Uma parcela dos domicílios é selecionada para responder ao questionário da amostra, que conta com 77 questões e inclui quesitos detalhados e sobre temas específicos, como características dos domicílios, identificação étnico-racial, nupcialidade, núcleo familiar, fecundidade, religião ou culto, entre outros temas.

Redação

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