Professor descobre primeiros répteis voadores em território piauiense

O céu piauiense, há centenas de milhões de anos, era possível encontrar notáveis répteis voadores, os pterossauros que sobrevoavam regiões no estado.
A descoberta inédita é do professor Paulo Victor de Oliveira, do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Piauí (UFPI) de Picos. O pesquisador realizou o primeiro registro de fósseis de pterossauros na formação Romualdo no Piauí.
Foram encontrados dois ossos fossilizados no sítio Capim Grande, no município de Simões, cidade a 440 km de Teresina. Os materiais são de um animal jovem e outro a um adulto completamente desenvolvido.
Veja o que disse o professor:
A importância da presença de fósseis de pterossauro em território piauiense?
A descoberta de pterossauros, em Simões, amplia a área de distribuição geográfica desses répteis voadores, que tem uma ocorrência bem maior na porção da Bacia do Araripe que aflora no estado do Ceará.
A descoberta dos ossos desses répteis voadores foi em 2020. Em cinco anos o que foi confirmado até agora?
A coleta do material se deu em 2020. A demanda de material para estudar é alta e o trabalho do paleontólogo é um trabalho diferenciado e que leva mais tempo quando comparado com pesquisas em outras áreas. Os dados obtidos estão presentes no artigo recentemente publicado na revista científica Anais da Academia Brasileira de Ciências. Tratam-se de dois indivíduos, um adulto e um jovem. Determinar esses diferentes estágios ontogenéticos só foi possível, a partir da confecção de lâminas osteológicas, onde observamos o comportamento das células do tecido ósseo nos dois ossos encontrados.
O material descoberto vai para onde?
O material está tombado na Coleção Científica do Laboratório de Paleontologia da UFPI em Picos.
Qual a característica desses répteis voadores?
Ossos ocos e finos para os tornar mais leves e contribuir com a capacidade de voar; asas formadas principalmente por um quarto dedo alongado sustentando uma membrana de pele; crista no esterno proeminente para ancorar músculos de voo. Podiam variar de pequenos a gigantescos.

Professor Paulo Victor, que comanda a pesquisa em Simões
Segundo o professor Paulo Victor de Oliveira, os ossos encontrados são de répteis de 3 metros de uma ponta da asa a outra.
“Diferentemente das aves atuais, que possuem asas formadas por penas, esses répteis apresentavam asas membranosas sustentadas por um dedo extremamente alongado, uma adaptação evolutiva extraordinária que permitiu aos primeiros vertebrados conquistar os céus”, disse o professor.
A descoberta ocorreu em área pertencente à Formação Romualdo, depósito sedimentar localizado na Bacia do Araripe, região que abrange os Estados de Pernambuco, Piauí e Ceará, no nordeste do Brasil. Essa formação geológica, datada do período Cretáceo, é composta principalmente por concreções calcárias que preservam importantes registros fósseis da história natural.
A descoberta foi resultado de uma pesquisa conjunta entre a UFPI, a Universidade Regional do Cariri (URCA), a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
No Brasil, a Bacia do Araripe, que se estende pelos estados do Ceará, Pernambuco e Piauí, abriga alguns dos fósseis de pterossauros mais bem preservados do planeta. Até então, porém, a maior parte das descobertas se concentrava no Ceará, e o Piauí não possuía registros confirmados desses animais.

“Esta pesquisa vai além de simplesmente marcar um novo ponto no mapa paleontológico. Ela demonstra que a aparente escassez de fósseis em determinadas regiões pode refletir apenas a falta de estudos adequados, e não a ausência real desses materiais. O Piauí revela agora seu enorme potencial paleontológico”, disse o professor.
Os achados no sítio Capim Grande preenchem essa lacuna geográfica, comprovando que os pterossauros habitavam toda a extensão da Bacia do Araripe, e não apenas sua porção cearense.