Ceará é 1º lugar do Brasil na Olimpíada Nacional de História

Estado é o destaque pelo terceiro ano consecutivo e conquistou 28 medalhas na 17ª edição da competição
O Ceará foi o grande destaque da 17ª Olimpíada Nacional em História do Brasil (ONHB) com o maior número de medalhas conquistadas do País. Das 81 equipes premiadas na final que ocorreu no último domingo (31), 28 eram de escolas públicas e privadas cearenses. Foram 4 medalhas de ouro, 8 de prata e 16 de bronze.
Apenas duas premiações foram conquistadas por alunos de escolas públicas do Ceará. Ganharam a medalha de bronze as equipes da Escola Estadual de Educação Profissional Francisca Neylita Carneiro Albuquerque, de Massapê, e da Escola de Tempo Integral Edgar Linhares, de Sobral.
A cerimônia de entrega aconteceu no ginásio da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em São Paulo. Mais de 1,4 mil estudantes dos ensinos fundamental e médio de todo o País estavam reunidos na final. Todas as equipes que participaram da última fase foram premiadas com uma honra ao mérito, a medalha de cristal.
Além disso, o Ceará foi o estado com o maior número de equipes finalistas: 107 ao todo. Em segundo lugar está Pernambuco (48), seguido de Bahia (33), Rio Grande do Norte (16) e Minas Gerais (14).
CONFIRA A LISTA DAS ESCOLAS PREMIADAS NA ONHB 2025
OURO
Colégio Farias Brito Jovem Eusébio
Castro Instituto de Educação
Colégio Lourenço Filho Central
Dáulia Bringel Colégio
PRATA
Colégio Ari de Sá Cavalcante Washington Soares
Farias Brito Jovem Seis Bocas Colégio
Dáulia Bringel Colégio
João Pedro de Sexto Instituto Frei
Farias Brito Colégio de Aplicação
João Pedro de Sexto Instituto Frei
Colégio Lourenço Filho Central
Nossa Senhora das Graças Colégio
BRONZE
Colégio Farias Brito Jovem Cariri
Farias Brito Jovem Seis Bocas Colégio
Farias Brito Colégio Pré-Vestibular Central
Dom Quintino Centro de Estudos
Colégio Farias Brito Sobralense
EEEP Francisca Neylita Carneiro Albuquerque (pública)
Colégio Lourenço Filho Central
Tiradentes Colégio
Farias Brito Colégio de Aplicação
ETI Edgar Linhares (pública)
Colégio Lourenço Filho Central
Dáulia Bringel Colégio
João Pedro de Sexto Instituto Frei
Colégio Farias Brito Sobralense
Colégio Santa Cecília
Colégio Ari de Sá Cavalcante Washington Soares
‘A ESCOLA PÚBLICA TAMBÉM PODE’
Em entrevista ao Diário do Nordeste, as alunas da Escola Estadual de Educação Profissional Francisca Neylita Carneiro Albuquerque, de Massapê, Maria Emelle, Rebeca Clarice e Rhayssa Emylie, do 3º ano do Ensino Médio, contam que essa foi a terceira participação delas na Olimpíada e a que foram mais longe. Nos outros anos, o grupo acabou sendo eliminado antes de chegar à última etapa. Em 2025, foi também a primeira vez que a escola chegou às semifinais e à final da competição.
“Esse ano a gente viu que era a nossa última chance e fomos com sangue no olho, muita garra, determinação e foco. A gente conseguiu passar, pela primeira vez, para a sexta e para a sétima [e última] fase”, diz Maria Emelle.
“A gente não esperava ganhar porque, na nossa cabeça, não era nem que a gente não fosse capaz, mas a gente achava que tinha outras equipes melhores que a nossa […] Foi uma surpresa para todo mundo”, complementa.
Chegar à etapa final e presencial, em Campinas, no estado de São Paulo, também realizou outro sonho para as estudantes: pela primeira vez, Maria Emelle, Rebeca Clarice e Rhayssa Emylie viajaram de avião e saíram do Ceará.

Apesar do interesse pelas Ciências Humanas, o trio se considera ‘de exatas’ e gosta de competir em olimpíadas científicas em outras áreas do conhecimento desde o início do Ensino Médio. “A gente tem a mesma equipe em história, em matemática e em química”, diz Rebeca. Para elas, a participação na ONHB estimula também a desenvolver a pesquisa científica e o trabalho em equipe.
“Eu pretendo seguir em outro curso [na faculdade], mas acho que foi uma área que me ajudou bastante, me ensinou muita coisa também. Participei de umas quatro edições e cada uma delas é um tema diferente para debater e conversar”, pondera Rebeca.
O professor de História das alunas, Vicente Domingues, participa da ONHB desde 2013. Para ele, a competição possibilita a formação continuada dos docentes e estimula a melhorar a metodologia em sala de aula, além de “mostrar para os estudantes que qualquer pessoa pode desenvolver o interesse pela pesquisa histórica ou qualquer pesquisa”, afirma.
Ele também explica que a organização estabelece um tema a ser trabalhado ao longo do concurso acadêmico. Nesse ano, a temática abordada foi a Inteligência Artificial e os meios de comunicação, como jornal, rádio e cinema.
“A Olimpíada vai dando pistas e referências para quando você chega na final, você tem um embasamento para poder discutir o texto que eles ofertam, a problemática que eles lançaram para os alunos resolverem sozinhos”, detalha. “A gente aprende durante a Olimpíada, como historiador mesmo, buscando e descobrindo tudo que a ONHB traz para a gente”, completa Emelle.
O processo também é muito importante. O que a gente ganha de aprendizado, o que o professor ganha de referencial para poder debater com os alunos em sala de aula, o que os alunos que participam ganham também em termos de conhecimento é uma é imensurável, imensurávelVicente Domingues
professor de História
Segundo o docente, as meninas são muito talentosas e se tornaram uma inspiração para os colegas. “No começo, eram poucas equipes e, neste ano, nós tivemos 27 equipes. Tivemos três semifinalistas e as meninas chegaram, pela primeira vez, na final. Foi um grande feito para a escola”, afirma.
Esse sentimento de felicidade e estímulo também é compartilhado pela diretora da escola, Angela Braz. “O resultado realmente foi bom porque incentiva a outros alunos. Eles veem e pensam assim: ‘a gente também pode’. A escola pública também pode. […] Eu tenho certeza que, no próximo ano, muito mais alunos vão querer participar incentivado por elas”, declara.
“Nós temos uma escola pública de qualidade, que consegue ofertar um apanhado científico muito grandioso para os estudantes”, diz o professor.
Segundo a Secretaria da Educação do Ceará (Seduc), cinco equipes compostas por 15 estudantes e 6 professores da rede pública estadual participaram da etapa final em Campinas. A Pasta afirmou, em nota, que “garantiu passagens aéreas, terrestres, diárias e ajuda de custo para todos os participantes convocados para a final”.
‘A EDUCAÇÃO TRAZ POSSIBILIDADES INIMAGINÁVEIS’
A Escola de Tempo Integral Edgar Linhares também levou uma medalha de bronze para a Região Norte do Estado. A equipe Historiador3s, formada pelos alunos Juan Pablo, Marcela e Lucas teve a orientação da professora de História Viviane Nunes. Ela conta que essa é a segunda participação da instituição na competição científica, com dois grupos de alunos.
“No ano passado, chegamos à semifinal com uma das equipes, mas não conseguimos chegar até a final. Acredito que porque não tínhamos uma estrutura muito adequada para as reuniões, para que os estudantes fizessem as provas e conseguissem discutir as questões”, afirma.
Com a confirmação na etapa presencial, os professores foram atrás de apoio financeiro para garantir a participação dos jovens em Campinas. “Eu sempre deixei isso bem claro, de que eles não tinham uma garantia, mas que, se eles topassem participar do processo, a gente ia fazer tudo possível”, diz.
A Prefeitura de Sobral custeou as passagens aéreas, hospedagens e o translado para Fortaleza aos seis estudantes e dois docentes da rede municipal.
Para Viviane, a medalha conquistada é um incentivo para a rede de ensino de Sobral na totalidade. Outros alunos do Ensino Fundamental já mostram interesse em participar da competição, conta a docente.
“No trabalho de professor, uma coisa que nós sempre falamos para os alunos, é que a educação traz caminhos e possibilidades inimagináveis, e eles viram isso acontecendo. Acompanharam o processo, viram o esforço dos colegas deles e até onde isso levou”Viviane Nunes
professora de História
“Foi uma forma de levar esperança para esses meninos, de levar possibilidade, de mostrar para eles, na prática, o que a gente diz já tantas vezes, que educação abre caminho, sim. Que existem muitas possibilidades através da educação, sim”, finaliza.
COMO FUNCIONA A ONHB
A Olimpíada Nacional de História do Brasil reúne estudantes dos 8º e 9º anos do Fundamental e do Ensino Médio de escolas públicas e particulares, em grupos compostos por três alunos e um professor de História.
A ONHB tem seis fases online, realizadas nos meses de maio e junho, com duração de uma semana cada. As provas dessas etapas incluíram questões de múltipla escolha e realização de tarefas, elaboradas com base em debates, pesquisa em livros, internet e orientação do professor.
A competição científica é realizada com apoio do Departamento de História da Unicamp, do Serviço de Apoio ao Estudante (SAE) da Unicamp, das Pró-reitora de Extensão e Cultura (PROEEC) e Pró-reitora de Graduação (PRG) da Unicamp, da Associação Nacional de História (Anpuh) e CNPq/FNDCT/MCTI/MEC/CAPES via edital n.º 38/2024 – Pop Ciência – Olimpíadas Científicas. Conta também com a participação de docentes universitários, alunos de graduação, mestrandos e doutorandos.