Com 80 lojas, qual o futuro das Lojas Americanas no Ceará?

Com 80 lojas, qual o futuro das Lojas Americanas no Ceará?

Como tendência não só paras as Americanas, lojas de rua passam por reestruturação e perdem espaço para e-commerce

A operação das lojas Americanas no Ceará ainda é uma incógnita para os consumidores. Após o marco de dois anos do estopim da crise financeira e de gestão da marca, a remodelação do negócio traz abertura e fechamento de unidades. Nesta movimentação, as grandes lojas de rua podem ser um dos alvos para tentar equilibrar o caixa e as determinações do seu plano de recuperação judicial.

No final do mês de dezembro, a rede fechou uma grande loja na Avenida Bezerra de Menezes, no bairro Parquelândia, em frente ao Instituto dos Cegos. O fato fez com que os consumidores ficassem apreensivos com o futuro das lojas de rua.

Questionada pela reportagem, a Americanas informou que “o processo de abertura e fechamento de lojas faz parte do curso normal do varejo somado ao plano de transformação da companhia, que prevê ajustes imediatos, de curto e médio prazos, com foco na rentabilidade e otimização do negócio”.
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Uma das mais novas no modelo “express”, em Fortaleza, a unidade da Monsenhor Tabosa, no bairro Centro, estava sendo abastecida de itens de material escolar no final da última semana. Porém, naquele que é um dos pontos fortes da marca, que é a venda de chocolates e snacks, a loja estava desfalcada, o que depois da crise financeira da marca pode trazer uma sensação de que “pode estar fechando”.

Prateleiras vazias
Legenda: Falta de produtos carro-chefe, como chocolates, afetam vendas e imagem das lojas Americanas
Foto: Paloma Vargas
Contudo, há uma leitura mais otimista. Vendedora ambulante há 29 anos na região, Ana Lima diz que a situação de desabastecimento é reflexo da alta venda de final de ano. “Graças a Deus o final do ano foi muito bom aqui. Eles venderam tudo. Os eletrodomésticos todos, por isso tá cheio de travesseiro ali na frente, para preencher o espaço”.

Ela conta que deixa o seu carrinho de lanches estrategicamente em frente à Americanas, juntamente por ser um ponto de “grande movimento”. “Sempre tem gente entrando ali. É muito turista pegando um chocolate, um biscoito, um salgadinho. Eles passam na ida para o centro e na volta, para levar alguma guloseima para o hotel”, opina.

Ana ainda revela que a abertura da loja, em 2022, trouxe movimento para aquela região que sofreu muito com a pandemia. “Graças a Deus essa loja está aqui. Ela trouxe movimento para essa avenida que já foi o melhor comércio da cidade”.

FORTE EM BAIRROS MAIS AFASTADOS E INTERIOR

Em uma unidade, localizada em um pequeno mall na Avenida Dr. Silas Munguba, no Itaperi, no final de uma manhã a loja parecia estar vazia de clientes e desabastecida de alguns produtos “âncora”, como os chocolates. Conversando com o funcionário do Caixa, foi possível saber que o reabastecimento ocorreria na semana seguinte.

Loja Americanas
Legenda: Em malls e bairros mais afastados, Americanas ainda são lojas âncora e atraem clientes
Foto: Paloma Vargas
Além disso, o rapaz disse que aquele era um horário tranquilo, mas que a partir do meio da tarde até a noite, o movimento triplicava. “De noite é lotado. Fecha 21 horas e, se ficasse mais, venderia mais”.

Questionado sobre o fechamento de lojas de rua pela rede e citado como exemplo a unidade da Bezerra de Menezes, o funcionário disse não ter ouvido nada parecido, ao contrário, ele comentou sobre contratação de pessoas para uma loja que abriu recentemente no bairro Montese. “Até levaram gente daqui pra treinar o pessoal de lá”, diz o jovem.

Christian Avesque, consultor de empresas e professor da Faculdade CDL Fortaleza, explica que assim como em bairros mais periféricos, no interior do Estado, as lojas Americanas podem ter até status de ser “quase que um pequeno mall, um pequeno shopping center”.

“Principalmente nas meso-regiões, Tapipoca, Limoeiro do Norte, Iguatu, Aracati, Crateús, essas cidades que concentram outras cidades menores, satélites”, explica.

Ele lembra que boa parte das lojas que estão no Interior, são em terrenos alugados e que, para não ficar refém das compras de produtos com ticket muito baixo, a rede está também oferecendo crédito e aumentando a sua sustentabilidade no local. “Para se manter, a rede acaba não só vendendo produtos, como vende crédito. Assim ela pode auxiliar essas famílias, principalmente do Interior, a ter condições de comprar itens de um ticket um pouco maior, para não ficar refém das pequenas compras”.

FALTA DE CREDIBILIDADE GERA FALTA DE PRODUTOS

Avesque, aponta como um dos grandes problemas da marca a falta de credibilidade que ela tem hoje com os grandes fornecedores. O fato de não ter honrado com seus compromissos fez a rede perder em ter mais prazo para pagar ou em melhores negociações, além de, agora, não ter mais produtos consignados, para que ela pudesse vender e depois pagar aos fornecedores.

O consultor também aponta a grande concorrência de lojas de preços únicos no setor de utilidades, que é onde está inserida a rede Americanas, o que ele chamou de “shoppeezação”. “Ela (Americanas) se concentrou bastante naqueles itens de, por exemplo, snacks, chocolates, a parte higiene pessoal, e aí ela tem uma concorrência muito grande, também, de players como os atacarejos, os supermercados, entre outros”, reforça.

“E na questão das utilidades ou itens para casa, não tem atratividade de preço em relação a esse fenômeno da shoppeezação que nós estamos tendo aqui em Fortaleza e outras grandes capitais do País”.

Interior Lojas Americanas
Legenda: Grandes lojas de rua devem virar dinossauros do varejo, diz especialista Christian Avesque
Foto: Paloma Vargas
CONSUMO DE UTILIDADES ESTÁ MIGRANDO PARA O E-COMMERCE

O especialista ainda reforça a migração do varejo de baixo valor agregado para o e-commerce, como um ponto a ser cuidado pelas lojas físicas. “Porque o consumidor gostou desse canal, é mais seguro, é mais conveniente, ele pode receber em casa ou pode retirar quando ele estiver retornando para casa. Então, cada vez mais, essas lojas de rua grande, mega lojas, elas vão ser grandes dinossauros”, pondera.

Redação

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