Como especialistas avaliam o impacto da nova federação União Progressista para a política no Ceará

Como especialistas avaliam o impacto da nova federação União Progressista para a política no Ceará

Disputa pelo comando no Ceará acirra embate entre governistas e oposição e pode redefinir alianças no pleito de 2026

Oficializada nesta semana, a federação entre União Brasil e Progressistas, a União Progressista, une duas das maiores legendas do Congresso. Contudo, a junção já nasce cercada de disputas internas espalhadas por todo o País. No Ceará, onde um partido integra a base governista e o outro atua na oposição, o desfecho dessa queda de braço, seja ele qual for, promete ter impactos decisivos nas articulações para o pleito de 2026.

O resultado vai definir quem terá mais influência sobre a maior bancada federal do País, com direito ao maior tempo de propaganda eleitoral gratuita e à fatia mais robusta dos recursos partidários — que pode ultrapassar R$ 1 bilhão.

A “super-federação” tem em seus quadros a maior bancada da Câmara, com 109 deputados, e a segunda maior no Senado, com 14 mandatários. No Ceará, o União Brasil chega com quatro deputados federais e quatro estaduais, já o PP soma um representante na Câmara dos Federal e três nomes da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece).

Conforme a professora de graduação e pós-graduação em Direito da Unifor e doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Mariana Dionísio de Andrade, essa nova federação inaugura um movimento de aliança entre duas siglas com ampla representação no Congresso Nacional.

NOVO PATAMAR PARA AS FEDERAÇÕES

Incluído pela Reforma Eleitoral de 2021, por meio da Lei nº 14.208/2021, o mecanismo das federações foi uma alternativa criada pelos congressistas para reduzir os impactos das medidas contra a fragmentação partidária no Brasil. As federações preveem que as legendas atuem de forma unificada em todo o país com o prazo mínimo de união de quatro anos. É uma espécie de meio termo entre as antigas coligações e as fusões partidárias.

“As federações até agora serviram, em grande medida, para a sobrevivência de partidos menores sob a tutela de legendas maiores, como no caso do PT-PCdoB-Rede e PSDB-Cidadania. No caso da União Progressista, o cenário é diferente: dois partidos robustos se unem e formam a maior bancada do Congresso”, aponta Mariana Dionísio.

A Flourish chart

Para ela, além desse “novo patamar” de relações partidárias, “isso também amplia o risco de tensões internas, já que a convivência entre lideranças com força semelhante tende a gerar disputas mais intensas por espaço e direção, o que pode fragilizar a coesão do bloco”. 

“Toda essa movimentação sinaliza uma nova etapa das federações, menos voltada à proteção de partidos frágeis e mais direcionada para a criação de polos de poder com alta capacidade de influência nacional e impacto direto nas disputas regionais”Mariana Dionísio de Andrade

Professora de graduação e pós-graduação em Direito da Unifor e doutora em Ciência Política pela UFPE

É de olho nessa influência que lideranças governistas admitem, nos bastidores, que entraram em campo para tentar conduzir a federação para a base do governador Elmano de Freitas (PT). Atualmente, o União Brasil é oposição no Estado, inclusive comandado por um dos principais nomes oposicionistas, o ex-deputado federal Capitão Wagner. A legenda, no entanto, tem se apresentado dividida, com nomes alinhados à gestão petista, incluindo deputados federais e estaduais.

“Enquanto o grupo ligado ao Capitão Wagner atua como oposição, há grupos que têm se aproximado bastante do governo desde que Elmano de Freitas assumiu, como o de Roberto Pessoa, prefeito de Maracanaú e do deputado Moses Rodrigues, que tem em Sobral sua principal base”, aponta o cientista político Pedro Barbosa, que também é diretor técnico do Instituto de Pesquisa Opnus.

Zezinho e AJ Albuquerque lado a lado em cima de um palanque eleitoral
Legenda: Pai e filho comandavam juntos o PP no Ceará e em Fortaleza Foto: Reprodução/Instagram Zezinho Albuquerque

Já o PP, sob comando do deputado federal AJ Albuquerque, é uma das mais fiéis bases de sustentação do grupo governista. O pai do presidente da legenda, por exemplo, é o secretário estadual das Cidades, Zezinho Albuquerque (PP). Diante dessas diferenças, o União Brasil parte na frente, já que, pelo acordo costurado pelas cúpulas nacionais dos dois partidos, o diretório que tiver o maior números de mandatários será quem decidirá o rumo à federação nos estados — no caso do Ceará, o União Brasil.

“A nova federação entra no jogo político com o maior tempo de propaganda no horário eleitoral, além da maior fatia dos fundos partidário e eleitoral. No cenário cearense, onde o partido pode marchar ao lado do governo ou lançar candidatura própria, tudo isso dobra de valor, pois contar com a aliança dessa federação não significa apenas aumentar o meu tempo de propaganda, mas também retirar esse tempo da candidatura adversária”Pedro Barbosa

Cientista político e diretor técnico do Instituto de Pesquisa Opnus

Conforme o PontoPoder apurou, lideranças governistas tentaram, por meio de tratativas em Brasília, promover uma troca de comando no União Brasil no Ceará e colocar um governista como sucessor de Wagner. 

Mariana Dionísio aponta que, diante de federações tão amplas e com alinhamentos políticos tão diferentes, a “primeira consequência” é justamente esse peso maior nas negociações a partir de Brasília. 

“Como o Ceará reúne lideranças governistas e oposicionistas, a disputa pelo comando local da sigla tende a influenciar diretamente o equilíbrio político porque, dependendo de quem assuma a direção no Estado, a federação pode se tornar parceira estratégica do governo Elmano ou um polo de reorganização da oposição”, acrescenta.

AS CARTAS NA MANGA DA OPOSIÇÃO

Para Pedro Barbosa, manter o controle do União Brasil e da federação no Ceará tem um peso maior para a oposição, já que o partido é um dos principais redutos do grupo no Estado. 

“Se o partido se posicionar a favor do governo, além do que falamos sobre o tempo de TV e fundo eleitoral, duas lideranças importantes e seus respectivos grupos precisariam se reorganizar”, avalia o cientista político, referindo-se a Capitão Wagner e ao ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, que teve sua filiação anunciada, mas ainda não chegou a ser oficializada.

Redação

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