Como foi correr a Maratona Internacional de Floripa 2025

Descubra como é correr a Maratona Internacional de Floripa, a quarta maior do Brasil, com meu relato exclusivo da prova e informações essenciais.
A Maratona Internacional de Floripa 2025 é diversão, superação e emoção. Esses são apenas alguns termos que ajudam a traduzir o que vivi no último domingo. Participar dessa prova foi mais do que correr 42 km: foi mergulhar em uma experiência completa, com emoção, técnica, bastidores e uma cidade inteira respirando corrida.
Neste texto, vou contar com detalhes minha jornada na Maratona Internacional de Florianópolis, que já é a quarta maior do Brasil (em números de maratonistas concluintes). Da entrega dos kits à emoção da chegada, passando por organização, torcida, percurso e aprendizados, você vai descobrir por que essa maratona precisa entrar na sua lista.
Antes da largada: viagem, clima e ansiedade
Participar de uma maratona nunca é apenas sobre o dia da prova. A experiência começa bem antes. No meu caso, a viagem para Florianópolis já trouxe frio na barriga: primeira vez correndo uma maratona fora do meu estado, a primeira maratona no frio e a primeira vez na Ilha da Magia.
Cheguei alguns dias antes e a diferença de clima foi um impacto imediato. Saí de João Pessoa, onde o calor é rotineiro e encontrei em Floripa temperaturas bem mais baixas, especialmente pela madrugada e manhã. Isso exigiu ajustes até nas tarefas mais simples, mas tentei não fugir de mais da sensação térmica, não vá rir, mas até lavei louça no Airbnb como forma de aclimatar minhas mãos ao frio. Parece engraçado, mas todo detalhe conta quando você sabe que cada sensação pode pesar nos 42 km.
Nos dias que antecederam a prova, não dormi nem 6 horas por noite pois fui a trabalho. Na véspera, os pés já estavam doloridos de tantos dias caminhando e em pé. Justo na époa em que cada dorzinha que aparece de repente, é aumentada por uma lupa imaginária. A mente trabalha em ritmo acelerado: “E se eu esquecer algo importante? Será que estou pronto? Será que vou corresponder às expectativas?”. Quem já correu sabe que a prova começa dentro da cabeça.
Me protegui armando um verdadeiro mozaico de itens na sala, para não esquecer de nada. E foram várias viagens do quarto e cozinha, pra sala, levando os itens ao perceber que faltava algo. Desde alguma opção para frio intenso, passando pela vaselina sólida e esparadrapo.
Entrega dos kits e a Expo Running
O primeiro contato com a estrutura da Maratona Internacional de Floripa foi na entrega dos kits, realizada no Shopping Villa Romana. Um espaço confortável e bem sinalizado.
Foram montados 40 guichês de atendimento, além de um balcão exclusivo para mudança de titularidade. Mesmo com o grande fluxo de corredores, ninguém esperava mais do que dez minutos na fila. Atendimento ágil, simpático e eficiente: a primeira impressão foi das melhores.
No kit vinha: sacola (também usada para o guarda-volumes), revista informativa com tudo que o corredor precisava saber, número de peito, alfinetes e a camiseta oficial. Um detalhe sobre aa sacola: ela já vinha integrada à logística de guarda-volumes da prova, mostrando o cuidado da organização.
Na Expo, o clima era de confraternização. Havia grande variedade de artigos esportivos, promoções e, claro, encontros com figuras conhecidas. Vi Marcel, do Mania de Corrida, Michael, do Canal Corredores, e treinadores como Saulo, da Bora Assessoria. Foi aquele ambiente em que o coração já começa a bater mais rápido: você percebe que está participando de algo grande.
Estrutura e organização dignas de prova internacional
Se tem algo que merece destaque na Maratona de Floripa é a organização. Poucas horas antes da largada, mais de 150 trabalham em sincronia para montar a arena da prova. Como o trânsito da cidade não pode ficar interrompido por muito tempo, tudo precisa ser feito em ritmo acelerado – e é impressionante ver a transformação.
De repente, uma avenida comum se torna palco de uma das maiores maratonas do Brasil. Gradis, hidratação, cronômetros, arbitragem, som, tudo em perfeito funcionamento. Isso mostra que, quando há planejamento e dedicação, o resultado impressiona até em nível internacional.
E não era pouca gente: foram mais de 5 mil concluintes, consolidando a Maratona Internacional de Floripa como a quarta maior do Brasil. Para organizar tanta gente, a largada é dividida em ondas de pace (ritmo), o que ajuda a evitar aglomerações e garante que cada corredor possa encontrar seu ritmo.
A arena, embora já desse sinais de que em breve precisará ser ampliada para comportar tanta gente, cumpriu bem sua missão: acolheu, orientou e energizou cada participante.
A largada: frio na barriga e união
A largada de uma maratona é sempre emocionante. É olhar para os lados e ver milhares de pessoas que, como você, treinaram por meses, enfrentaram dúvidas, superaram limites e agora estão ali para um mesmo propósito.
O frio na barriga é coletivo. A ansiedade também. Mas há algo de mágico em saber que, embora cada um tenha sua própria batalha, todos correm lado a lado. É a celebração da corrida como esporte e como estilo de vida.
Quando a buzina de largada soou, a Ilha da Magia ganhou novo ritmo. A multidão começou a se mover, cada um no seu pace, cada um na sua história. Um rio de pessoas fluindo por ruas, avenidas, elevados e pontes. Todos parecendo um só, em sintonia com o grupo e consigo mesmo.
O desafio do início: controlar a empolgação
Os primeiros quilômetros de uma maratona são traiçoeiros. O coração pede velocidade, a torcida impulsiona, o corpo está descansado. Mas a experiência ensina: é preciso segurar.
Em Floripa, isso é ainda mais difícil. Antes mesmo do terceiro quilômetro, o percurso já exige atenção. São seis curvas em sequência, com muita gente ao redor, o que aumenta o risco de se perder na estratégia.
Aqui entra um detalhe técnico que poucos lembram: as tangentes. Em cada curva, escolher o lado certo da rua pode fazer diferença de centenas de metros no total da prova. Se você sempre corre no mesmo lado, sem ajustar, acaba percorrendo mais do que os 42,195 km oficiais.
Consegui me manter atento. Segui o plano: respeitar o esforço, controlar o cansaço e pensar na prova como um todo. Afinal, ainda havia um longo caminho pela frente.
A travessia da ponte e o encanto do percurso
O primeiro grande marco da Maratona de Floripa é a travessia da Ponte Colombo Salles. Mesmo ainda escuro, o visual é inesquecível. O vento no rosto, as luzes refletidas, a sensação de estar cruzando em paralelo a um dos cartões-postais da cidade enquanto corre, a iluminada Ponte Hercílio Luz.
Do outro lado, vieram elevações moderadas e novas curvas, que exigiam foco redobrado. O asfalto guardava armadilhas em forma de “olhos de gato”, aquelas marcações que podem derrubar um corredor desatento. Eu mesmo passei boa parte avisando os colegas ao lado: “Cuidado com o olho de gato!”. Felizmente, não vi ninguém cair.
Na volta ao continente, uma surpresa divertida: os túneis. A sensação de correr naquele espaço fechado, com som diferente e energia única, é inesquecível. Passamos pra lá e pra cá, sempre com aquela sensação de que estávamos em algo especial.
O plano fica real no quilômetro 28
Até o quilômetro 28, a maratona exige jogo de cintura: sobe viaduto, cruza ponte, faz curva. Só depois disso é que o trajeto se torna realmente plano até a linha de chegada.
Mas é no quilômetro 29 que acontece o que chamo de “doping emocional”. Ao passar em frente à arena de largada e chegada, a avenida se transforma. Em uma avenida de três vias, apenas na central é possível correr porque de um lado e do outro a avenida está tomada por torcedores, uma energia que transcende a dor e o cansaço.
Gritos, aplausos, cartazes, sorrisos. Eu simplesmente não conseguia parar de sorrir. Por mais de um quilômetro, parecia que a energia vinha da torcida, não das minhas pernas.
E não era só ali. No quilômetro 35, havia famílias esperando, cartazes criativos, gente fantasiada de unicórnio dançando e animando. A cidade realmente abraça a maratona. Florianópolis parece se orgulhar de sediar o evento. E nós, corredores, sentimos isso a cada terço da prova.
O muro invisível e a superação
Mas nem tudo são flores. A partir do quilômetro 33, a maratona mostra sua face mais dura. Câimbras, desmaios, corredores parando. É o momento em que muitos enfrentam o famoso “muro”.
Ali, você tem duas opções: se deixar abater pelo cenário ou olhar para dentro de si mesmo e buscar forças que nem sabia que tinha. Eu escolhi a segunda. Respirei fundo, pensei em toda a preparação, lembrei de cada treino. E segui.
O corpo dói, as pernas pesam, a mente tenta sabotar. Mas é também nesse ponto que a corrida deixa de ser só física e se torna mental. É quando você descobre que não está apenas correndo, mas entrando em um modo de função única: correr.
Os últimos quilômetros: correndo nas nuvens
Do quilômetro 40 em diante, a torcida volta com força total. O som dos gritos, os aplausos, a energia: tudo cria a sensação de que você já venceu.
No 41, já não sentia mais a dor nos pés, acumulada pelos dias de trabalho. Era como correr nas nuvens. O cansaço desapareceu, a dor não importava, as pernas se moviam sozinhas. Era eu, a corrida e uma multidão torcendo junto.
Cruzar a linha de chegada foi transcendental. Um misto de alívio, felicidade e gratidão. Eu sabia que aquela maratona tinha marcado minha vida como corredor. Pela energia de uma cidade orgulhosa de ser desde de uma maratona internacional.
Por que você deve correr Floripa um dia
A Maratona Internacional de Floripa é uma experiência completa:
- Estrutura eficiente e organizada.
- Percurso técnico e desafiador, mas recompensador.
- Torcida calorosa que dá energia em momentos decisivos.
- Cenários únicos, como pontes, túnel e a própria Ilha da Magia.
- Clima de festa do início ao fim.
É uma prova que merece crescer e que já se consolidou entre as maiores do Brasil. Recomendo a qualquer corredor que sonhe viver algo inesquecível.
Mas lembre-se: treino e preparação são fundamentais. Respeite seu treinador, busque apoio de nutricionista e fisioterapeuta, invista em fortalecimento. Só assim essa maratona será um sonho realizado, e não um pesadelo.
Participar da Maratona Internacional de Floripa é escrever um capítulo especial na sua trajetória de corredor. E eu já sonho em voltar a viver tudo isso outra vez.