I Prêmio Mulheres Negras que Inspiram reconhece trajetórias de resistência e transformação social

Evento alusivo teve homenagens a mulheres negras de diversas áreas e reafirmou o compromisso com a valorização da identidade, ancestralidade e protagonismo feminino
Em alusão ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha e ao Dia Nacional de Tereza de Benguela, comemorados em 25 de Julho, a Secretaria de Estado da Assistência Social, Inclusão e Cidadania (Seasic) realizou, nesta terça-feira, 22, o I Prêmio Mulheres Negras que Inspiram. O evento homenageou 15 mulheres negras sergipanas que atuam em diferentes áreas com reconhecida contribuição social, cultural e política. A abertura da premiação foi marcada por um espetáculo teatral apresentado por alunos do Centro de Excelência Nelson Mandela.
A secretária da Seasic, Érica Mitidieri, destacou o caráter simbólico e reparador da premiação. “Foi o momento de trazer à sociedade a valorização dessas mulheres que atuam com potência e profissionalismo. Temos líderes religiosas, jornalistas, advogadas, educadoras, parteiras, ativistas. São mulheres que inspiram, fortalecem outras mulheres e que, muitas vezes, não têm noção do impacto que causam em suas comunidades”, pontuou.

A secretária de Estado de Política para as Mulheres, Danielle Garcia, também participou da cerimônia e emocionou o público ao lembrar da importância da empatia e sororidade. “Não sou negra, mas preciso sentir a dor da mulher negra. Não tenho deficiência, mas preciso me sensibilizar com essa vivência. Quando deixamos de sentir a dor do outro, morremos por dentro. E nós estamos vivas. Unidas por respeito, dignidade e por um futuro melhor”, enfatizou.
A diretora de Promoção da Igualdade Racial da Seasic, Ianne Cavalcante, explicou o propósito do prêmio. “É uma forma concreta de reconhecer e valorizar as trajetórias de mulheres negras que atuam com coragem e compromisso em diversas frentes: educação, saúde, cultura, espiritualidade, direitos humanos e economia. Mulheres que resistem e inspiram”, destacou.
Em um dos momentos mais emocionantes do evento, a conselheira estadual e ativista LGBTQIAPN+, Daniela Gasparelly, falou sobre a luta das mulheres trans negras. “Ser reconhecida aqui é representar tantas outras que estão nas ruas, batalhando por dignidade, por uma chance. Sou uma mulher trans, negra, periférica, do baixo São Francisco, e essa homenagem é por todas nós que seguimos resistindo. Agradeço pelo olhar sensível e pela escuta que recebemos hoje”, frisou.

A jurista e ex-ministra dos Direitos Humanos, Luislinda Valois, relembrou sua trajetória e destacou o valor da premiação. “Esta homenagem faz parte do meu viver. Que todas as religiões e todas as mulheres estejam abraçadas na luta por uma sociedade mais justa. Temos o dever de buscar a paz mundial. Sigamos juntas”, ressaltou.
Zefa da Guia, parteira tradicional do sertão sergipano, reafirmou a importância do conhecimento ancestral. “Sou o trabalho que aprendi com Deus e com meus ancestrais. Honro cada criança que ajudei a nascer. É gratificante ver esse reconhecimento por algo que faço com tanta fé e dedicação”, relatou.
Mãe Jacira de Ogum, yalorixá do Abassá Ogum de Ronda, também foi homenageada e fez questão de agradecer com devoção. “Peço a Jesus que continue abençoando esta gestão. Tenho 82 anos e sigo firme, fazendo caridade e passando adiante o que aprendi. Que esse momento traga mais respeito às religiões de matriz africana”, salientou.
Mestra Nadir da Mussuca, símbolo da cultura popular sergipana, falou com orgulho da sua trajetória. “Sou mestre do Samba de Pareia e do Grupo São Gonçalo. Na Mussuca, a cultura é viva e passa de geração em geração. Receber essa homenagem é dizer que a cultura popular não vai morrer”, contou.
Feira de Afroempreendedorismo
Além das homenagens, o evento contou com a Feira de Afroempreendedorismo Feminino, com a participação de 20 expositoras negras que apresentaram produtos ligados à moda, gastronomia afro-brasileira, artesanato, arte sacra, decoração e cosmética natural.
A artesã Valdelice Dias participou expondo peças feitas com fibra da bananeira. Para ela, o espaço foi uma oportunidade de reconhecimento e valorização. “É muito importante estar aqui mostrando nossa arte, nossa espiritualidade, nossa força. Já participei de feiras, mas essa tem um significado especial por celebrar a mulher negra. Me senti honrada pelo convite. A mulher negra precisa ter garantido o seu lugar”, completou.
Homenageadas
Geneluça Cruz Santana – educadora e idealizadora do Prêmio Escola Antirracista
Luislinda Dias de Valois Santos – jurista e ex-ministra dos Direitos Humanos
Zefa da Guia – parteira tradicional do sertão sergipano
Maria Nadir dos Santos (Mestra Nadir da Mussuca) – mestra da cultura popular
Wézya dos Santos Ferreira – advogada e mestra em Direitos Humanos
Mãe Jacira de Ogum – Yalorixá do Abassá Ogum de Ronda
Bianca Oliveira Santos – afrochef e proprietária da Casa do Dendê
Tatiane Costa – afroempreendedora e criadora da Negra Luz
Thiara Menezes – produtora cultural e fundadora do Circular Black
Iara Lins – jornalista da TV Sergipe
Iyá Sônia Oliveira – líder religiosa de matriz africana
Geonisia Vieira Dias (Nice) – representante das marisqueiras sergipanas
Patrícia Santos de Jesus – representante das quebradeiras de mangaba
Daniela Gasparelly – ativista LGBTQIAPN+ e conselheira estadual
Valdilene Oliveira Martins – representante de base dos movimentos populares
Dona Alice – delegada da Conferência Nacional de Mulheres