IFCE de Itapipoca inventa concreto com quenga do coco, sem brita

Professores e alunos do IFCE produziram o bioconcreto feito com materiais extraídos da natureza
Estudantes do campus de Itapipoca do Instituto Federal de Ciência, Educação e Tecnologia do Ceará, o IFCE,desenvolveram um tipo de concreto que pretende unir a vantagem de um material mais leve à sustentabilidade. A ideia do invento, chamado de concrecoco, é usar a casca do coco verde para substituir agregados comumente utilizados no mercado da construção civil, como areia e brita.
A pesquisa do IFCE teve início em março de 2024, quando o professor Adalberto Viana convidou alunos do curso técnico integrado ao Ensino Médio em Edificações a investigarem necessidades de Itapipoca que se relacionassem à sustentabilidade e aos estudos em sala de aula. Foi observada, então, a grande quantidade de excedentes de cocos descartados em um lixão da cidade.
Segundo dados de pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Ceará é o estado que mais produz coco no Brasil. Foram contabilizados 519 milhões de cocos naquele ano. As indústrias aproveitam principalmente a água, o leite, o óleo e a polpa ralada do fruto, sendo parte dos produtos direcionados à exportação. Itapipoca está entre os municípios que participam ativamente dessa cadeia econômica.
A quenga do coco, como é popularmente conhecido o endocarpo do fruto, leva até dez anos para se biodegradar quando não é aproveitada, segundo pesquisa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O descarte inadequado, além de poluir o meio ambiente, pode facilitar a procriação de animais peçonhentos e insetos vetores de doenças, entre outros impactos negativos.
A solução encontrada pelo grupo de pesquisa, então voluntários do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Científica Júnior, do IFCE, foi destinar esses resíduos para a produção de um concreto leve ou bioconcreto, como são chamados os concretos feitos com materiais extraídos da natureza.
Primeiramente, foi realizado o estudo da matéria-prima. “Nós desenvolvemos uma metodologia. Esse endocarpo, depois de limpo, é aquecido a 165 graus para tirarmos o óleo e a água da casca”, explica o docente Adalberto Viana. Em seguida, foi preciso encontrar as quantidades ideais para uma mistura de cascas, água, cimento e areia que resultasse em um concreto leve, resistente e durável.
Feitos os corpos de prova, chegou o momento de analisar, por exemplo, a capacidade de absorção de água, de sorvidade e a resistência do produto. De acordo com o professor, o desafio de lidar com um material orgânico é que ele se deteriora naturalmente. A alternativa foi encapsular o agregado de modo que ele não sofresse os efeitos da umidade. Os testes de resistência e de densidade também obtiveram sucesso.
Com o concrecoco pronto, a equipe formada por Maria Clara Ferreira, Maria Clara Tomé, Maria Eduarda Freitas, Matheus Lima, Rafaela Sampaio e Riany Silva decidiu aliar a aplicação do produto à responsabilidade social. Seguindo as normas de acessibilidade da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), eles criaram pisos táteis, usados para facilitar a locomoção de pessoas com deficiência visual.
Foram feitos exemplares de 25 cm² tanto do tipo direcional, que serve como guia em um caminho, quanto do tipo alerta, para indicar obstáculos. O objetivo é, em parceria com o Núcleo de Acessibilidade às Pessoas com Necessidades Específicas (NAPNE) do campus, aplicar os pisos no próprio IFCE e avaliar a durabilidade diante do uso e das variações climáticas.