Instituto restaura documentos que revelam cotidiano de Pernambuco durante ocupação dos holandeses

O acervo é de José Hygino Pereira, historiador recifense que viajou à Holanda em 1886 e transcreveu documentos à mão que relatam passagem de Maurício de Nassau pelo Nordeste
Um acervo com mais de 900 páginas escritas à mão está sendo restaurado pelo Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano em parceria com a Arte sobre Arte Restauro. Os documentos detalham como era a vida em Pernambuco durante a ocupação holandesa capitaneada por Maurício de Nassau, entre os anos de 1630 e 1654.
O acervo é de José Hygino Pereira, advogado, professor, político e historiador recifense que viajou à Holanda em 1886. Lá, ele estudou documentos originais referentes ao período da ocupação holandesa no estado, transcreveu os textos e montou o catálogo que relata a passagem de Maurício de Nassau pelo Nordeste.
Segundo a restauradora e coodenadora do projeto, Débora Mendes, o intuito é saber mais sobre a vida no estado durante o período, que até hoje é marcante para os pernambucanos. Os documentos, inclusive, podem ser únicos no Brasil.
“Sabemos muito sobre o que fez Maurício de Nassau em Pernambuco, mas pouco sobre a vida do cidadão comum na época da ocupação holandesa em nosso estado e esses textos transcritos por José Hygino nos ajudam a imaginar como era o dia a dia dessas pessoas”, comentou.
Restauração
A iniciativa faz parte do projeto Restauração dos Documentos Holandeses do Fundo José Hygino do IAHGP e tem incentivo do Funcultura, Fundarpe e Secretaria de Cultura do Governo do Estado.
O Fundo José Hygino do IAHGP é composto por 13 caixas. Neste momento, apenas o material contido na última está sendo restaurado. São processos administrativos e outros registros do período de 1623 a 1654, escolhidos por conta do seu estado de conservação que está entre regular e ruim.
“Temos aqui documentos avulsos, sem encadernação, amarrados com cordão e colocados numa caixa de arquivo ácida, o que acelera o seu processo de degradação. Alguns desses documentos estão quebradiços e com perda de suporte. Então, nosso objetivo é fazer a sua recuperação para prolongar o tempo de vida desse material”, afirmou a coordenadora.
Trabalho minucioso
O trabalho também precisa ser muito minucioso. O grupo de conservadores e técnicos em restauro deve catalogar, higienizar e recuperar cada uma das mais de 900 páginas encontradas na caixa 13.
Além deles, há ainda profissionais que irão contribuir, sobretudo, com a tradução de alguns documentos que estão em neerlandês e limburguês.
A parte final do projeto envolve ainda o acondicionamento deste material. Isso significa que cada página não deve ficar mais em contato direto com as outras, e serão armazenadas individualmente e preservadas em caixas poliondas. Esses recipientes, entre outras ações, retardam o processo de acidez do papel e protegem da umidade, por exemplo. Assim, ficarão aptas para consultas por pesquisadores e estudiosos.
Holandeses em Pernambuco
Por meio da Companhia das Índias Ocidentais, os holandeses ocuparam parte da região Nordeste do Brasil entre 1630 e 1654. A área se estendia onde atualmente ficam Alagoas ao Ceará, passando por Pernambuco. O estado teve um papel de destaque da ocupação, já que Recife foi transformada na capital da colônia holandesa.
A ocupação só chegou ao fim após a Insurreição Pernambucana, movimento de resistência que culminou na expulsão dos holandeses do estado. Um mapa único e inédito para historiadores brasileiros e europeus foi adquirido em 2023 pelo Instituto Flávia Abubakir (IFA), da Bahia, e mostra como foi esse processo.
